Sem provas, Jefferson confirma "mensalão", poupa Lula e ataca José Dirceu
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ROSE ANE SILVEIRA
da Folha Online, em Brasília
Após mais de seis horas de depoimento no Conselho de Ética da Câmara, o presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), reafirmou o teor das denúncias reveladas à Folha de cobrança do "mensalão" na Câmara, porém não trouxe provas. Jefferson poupou Lula de críticas diretas, chamando-o de "um homem honrado e correto", e disse que o ministro José Dirceu (Casa Civil) pode transformar o presidente "em réu".
Apesar de não levar provas de irregularidades, Jefferson apontou ao menos seis deputados envolvidos no esquema do "mensalão": o presidente do PL, Valdemar Costa Neto (SP), o líder do PP na Câmara, José Janene (PR), Pedro Corrêa (PE), o líder PL na Câmara, Sandro Mabel (PL), o deputado Bispo Rodrigues (PL-RJ) e PP Pedro Henry (MT). Todos negaram as acusações.
Jorge Araújo/Folha Imagem |
Sessão do Conselho de Ética parou o Congresso Nacional |
"Sublimei o mandato, não vou lutar por ele", afirmou Jefferson, consciente de que está isolado no partido e de que o PTB deve perder parlamentares a partir da próxima semana.
Sob tensão
A reunião foi tensa, com ataques pessoais entre deputados, o presidente do PTB poupou apenas o presidente Lula e a bancada do PT na Casa. Em compensação, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, o presidente do PT, José Genoino, o integrante da direção petista Sílvio Pereira, as lideranças do PP e PL e a imprensa foram os principais alvos das acusações.
Risonho, cheio de gestos e com poucas palavras, Jefferson passava seus recados olhando direto para as câmeras de televisão, dispostas no plenário da comissão. Foi para essas câmeras que o presidente do PTB pediu, por exemplo, para que o ministro Dirceu deixasse o cargo.
"Se você não sair daí rápido, vai fazer réu um homem decente que é o presidente Lula. Sai rápido para não fazer mal a um homem de quem tive a honra de apertar a mão. Sai, Dirceu, sai!".
Apesar da segurança, nenhuma prova foi apresentada aos deputados que comprovariam o suposto pagamento do "mensalão" ou a participação de petistas em esquemas de corrupção. Mas ele mostrou que seu alvo, mesmo sem provas, era a cúpula do governo e do PT.
"Essa gente do PT dá ferroada. Desta vez, ela é tão forte que pode levar o sapo para o fundo do Rio, mas desta vez os escorpiões da cúpula vão junto", disse.
Reuters |
Jefferson, em depoimento ao Conselho de Ética da Câmara |
No rol de denúncias de corrupção preparadas estavam o Correio Noturno, a Diretoria de Informática dos Correios, controlada pelo PT, e empresas citadas como partícipes de supostas negociatas com o governo, como a Valec, presidida por Juquinha das Neves, tido como homem de confiança do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, em Goiânia, Skymaster e Novadata, empresa de Mauro Dutra, compadre do presidente Lula.
A cada intervenção de um deputado, um advogado lhe instruía. Eram a esses advogados que Jefferson pedia documentos para embasar denúncias aos parlamentares, tirados de uma pasta abarrotada de papéis. "Pega a capivara dele", disse sobre documentos contra um dos deputados que o contestava.
Nessas acusações, recebeu respostas vulgares do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e do líder do PL na Câmara, Sandro Mabel (GO), ambos acusados de serem operadores do "mensalão" no partido. Fora dos microfones, Costa Neto insinuou que Jefferson teria um caso com "um cidadão de Cabo Frio".
Mabel, que no início do depoimento ria com críticas do presidente do PTB ao ex-presidente Fernando henrique Cardoso, disse de pé e aos gritos no plenário do Conselho de Ética que era mais homem, mais macho do que Jefferson.
O presidente do PTB falou por mais de cerca de sete horas, incluindo sua apresentação inicial e as repostas. O líder do governo no Congresso, Fernando Bezerra (RN), que não é membro do Conselho, não apareceu para dar apoio a Jefferson. E antes de terminar seu depoimento, como não é comum entre políticos, viu o principal aliado, o líder do partido na Câmara, José Múcio (PE), deixar o plenário da comissão com um aperto de mão. Jefferson agradeceu. Antes do final da sessão, Múcio retornou.
O depoimento parou o Congresso Nacional, que adiou para amanhã a reunião da CPI Mista dos Correios, que deveria eleger o presidente e relator ainda hoje. Dois telões foram instalados para que as denúncias fossem assistidas. A segurança foi reforçada. Três agentes do Departamento da Política Legislativa ficavam de pé, atrás de Jefferson.
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