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Monday, June 06, 2005

Pedro Collor, edição 2005? Milton Temer -JB

Pode ser, tudo, mentira. Mas a possibilidade maior é de que seja tudo verdade, a levar em conta os retrospectos dos participantes do imbróglio armado pela entrevista de Roberto Jefferson à Folha de S.Paulo. Para saber a opção correta, não há saída. Só com CPI. Ao contrário de Ministério Público e Polícia Federal, só ela pode, sem obstáculos legais procrastinadores, convocar parlamentares para depoimentos públicos. Só ela pode quebrar, com rapidez, sigilos bancário e fiscal sem necessidade de demandar decisão de Justiça. Só ela pode fazer com que esta vaga crescente de clima pantanoso, envolvendo as relações entre Executivo e Legislativo, chegue a termo. E mais; diante dos fatos, tornam-se inócuas as manobras da base de apoio governista para tentar barrar a CPI, na reunião de hoje da Comissão de Constituição e Justiça, através do recurso contra ela impetrado por um deputado do partido que Jefferson acusa de receber mesada do prócer petista Delúbio Soares.

Tudo é muito grave. Tanto Jefferson quanto Delúbio receberam cheque em branco do presidente Lula. Delúbio já o tinha em mãos desde o tempo em que o controle de Lula se limitava às contas do Partido dos Trabalhadores. Jefferson, já mais recentemente, quando Lula, Presidente da República, já estendia seu controle às contas do Tesouro Nacional. Ou seja; se for comprovada a denúncia de que Delúbio pagava mesadas a deputados - e isto terá que ser apurado, mesmo que Jefferson recue de suas declarações na entrevista à Folha de S.Paulo - não há como excluir o próprio presidente da República, até então distante, do problema.

Não se trata mais, também, de expor a falácia do empenho tucano-pefelista na instalação de uma CPI contra o governo Lula. Mesmo sendo incontestável a utilização, no mandarinato FHC, de instrumentos condenáveis para o bloqueio de investigações parlamentares, não se justificava o comportamento mimético do PT. A não ser, é claro, que seus responsáveis tivessem consciência de quão atolado estariam, partido e Planalto, caso avançassem as investigações.

Revela-se, ainda, o caráter criminoso da tentativa de desqualificar os parlamentares dissidentes, membros do Bloco de Esquerda, assim como parlamentares do P-Sol, por apoiarem a CPI. Foi abjeta a denúncia, propalada pelos porta-vozes do oficialismo na grande mídia, de estarem a serviço das manobras eleitorais dos saudosistas da década trágica dos 90. Se é fato que requerimentos de CPIs sobre Proer, Sivam, privatizações e, principalmente, compra de votos para a garantia da aprovação da emenda da reeleição presidencial esbarraram em blindagens intransponíveis de alguns dos líderes conservadores, hoje empenhados em passar a limpo a questão dos Correios, isto não dava direito aos bajuladores do governo atual de defenderem métodos semelhantes. Não se pune o torturador com uma sessão de torturas. O correto é submetê-lo à barra dos tribunais. O correto seria o PT apoiar, em peso, a instalação da CPI, para provar que não tem o rabo preso nas maracutaias.

A partir de agora, não há mais controle. Quem tem memória lembra bem do que ocorreu no Brasil quando Collor, em seus arroubos, convocou a população para se vestir de verde e amarelo como forma de protesto contra os que pretendiam ''desestabilizar seu governo através das denúncias a PC Farias''. Com o que fizeram até agora, Planalto e direção petista conseguiram ver reproduzido o clima gerado por Pedro Collor, ao denunciar, em entrevista à imprensa, as manobras palacianas inqualificáveis do governo de próprio irmão.

Verdade que o sistema de sustentação de Lula é bem mais consistente. Está aí a famigerada Febraban anunciando a necessidade de sua reeleição, tal a forma pantagruélica com que a atual política macroeconômica permite ao setor que aglutina - os banqueiros privados - de continuar concentrando riqueza. Mas a previsão de tal empreitada começa a ficar mais para o sombrio do que para o garantido.

O trágico, nisso tudo, é que, ao invés de representar um avanço, o processo atual venha a servir ao crescimento da descrença da sociedade nas instituições republicanas, exatamente naquilo que elas possam ter de mais democrático. Que as protejam os parlamentares probos e combativos, com apoio dos setores do movimento social organizado, tornando evidente a distinção entre o joio e o trigo.

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