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Friday, January 20, 2006

Família de Celso Daniel endossa acusações de ACM contra PT



Família de Celso Daniel endossa acusações de ACM contra PT

Flávio Freire - O Globo

SÃO PAULO - Familiares do prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), encontrado morto quatro anos atrás numa estrada na região metropolitana de São Paulo, disseram nesta sexta-feira que não é possível ainda descartar a participação de integrantes do PT no crime. Ameaçado de morte em telefonemas anônimos, o irmão do prefeito, o professor Bruno Daniel, chegou a endossar as acusações feitas pelo senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), que, em discurso no plenário na quinta-feira, acusou o PT de tentar impedir as investigações sobre o assassinato.

- Enquanto o crime não for solucionado, são muitas as evidências que levam a crer na participação de petistas na morte do meu irmão - disse Bruno, para em seguida listando personagens com forte vínculo ao PT.

- O Sérgio (Gomes da Silva, o Sombra) já está indiciado e era muito próximo ao PT. O deputado Donizete Braga teve o celular rastreado e verificou-se que ele estava na região do cativeiro para onde meu irmão foi levado antes de morrer. O Klinger (de Oliveira e Souza) também está envolvido com a corrupção em Santo André, o que teria levado ao assassinato. São muitas evidências - disse.


Wednesday, January 18, 2006

Enfim, chegou a CPI da Privataria ELIO GASPARI

Enfim, chegou a CPI da Privataria


A criação da CPI da Privataria é a primeira boa notícia de 2006.

Parece coisa do passado, mas é uma oportunidade para se pensar no futuro. Num ano eleitoral, permitirá a observação do comportamento do tucanato diante do exame da roupa suja que deixou para trás. Se não for abafada, investigará as privatizações ocorridas entre 1990 e 2002. Nesse período, três governos venderam 100 empresas da Viúva e arrecadaram US$ 105,5 bilhões de dólares. Nove em dez transações se deram durante o tucanato. Prometeram abater a dívida pública, mas ela foi de 30% do PIB em 1995 para 62% em 2002.

Prometiam atrair recursos externos, mas os arrematadores foram socorridos por US$ 15,6 bilhões de empréstimos do BNDES e outro ervanário saído dos fundos de pensão de empresas estatais. Em pelo menos dois setores (elétrico e ferroviário) o velho e bom BNDES teve que correr atrás de caloteiros. Prometiam crescimento econômico e nos oito anos do surto privatista dos tucanos a economia cresceu abaixo de 3%, na mediocridade preservada pelo Nosso Guia.

Grampos telefônicos, editais self-service, consórcios incestuosos e contratos de gaveta deram componentes escandalosos ao processo. O apagão de 2001 e tarifas telefônicas lunares impostas por concessionários retrógrados foram as duas principais seqüelas dessa festa.

Nem tudo foi desgraça. Sabendo-se que em 1995 os teletecas da Embratel estatal tentaram monopolizar o acesso à Internet e produziram uma fila de 15 mil pessoas, vê-se que alguma faxina precisava ser feita.

Felizmente, o tucanão Sérgio Motta desinfetou a teleburocracia. A recuperação das rodovias entregues ao empresariado e o bom desempenho da Vale do Rio Doce mostram que a privatização das empresas estatais não foi maligna em si. Podia dar certo e, em certos casos, deu.

O exame da privataria pode ter um alcance superior à simples curiosidade fofoqueira em cima dos grandes patrimônios amealhados no período. (Fofoca: é provável que as privatizações tenham produzido as mais rápidas fortunas da história nacional. Nunca tanta gente ganhou tanto dinheiro em tão pouco tempo, sem produzir um só prego.)

Importa saber por que privatizações como a da Light e da Eletropaulo deram errado ou por que o acesso à telefonia deu certo, mas uma ligação de celular custa mais caro no Brasil do que nos Estados Unidos. Os "altos companheiros" poderiam avançar um pouco e explicar por que o BNDES (na versão petista) resgatou ferrovias quebradas onde a Funcef e a Previ (na versão pré-petista) haviam posto o dinheiro de seus aposentados.

A privataria foi uma política ruinosa de um governo acometido de compulsão vendedora para agradar a banca. Ocorreram erros de gestão que podem ser mais bem conhecidos e estudados. Se o problema for analisado apenas pelo lado da corrupção, não se vai longe. Ensinar as pessoas honestas a não fazer besteira é tão importante quanto tentar impedir que os ladrões furtem.

Do contrário, quem quiser saber o que houve no Brasil dos tucanos terá que pesquisar nas bibliotecas das universidades americanas. Na do Massachusetts Institute of Technology, por exemplo, pode-se ler o trabalho do economista indiano Sunil Tankha. Chama-se: "Uma confusão de meios e fins: A breve e infeliz época da privatização da energia elétrica no Brasil."

Tuesday, January 17, 2006

Trem da alegria no Itamaraty- Noblat 17/1





Trem da alegria no Itamaraty
O ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) e o secretário-geral Samuel Pinheiro Guimarães nem esperaram o Congresso aprovar a Medida Provisória 269, de 15 de dezembro, criando 400 cargos, e usaram a MP para fazer promoções no apagar das luzes de 2005, dia 30. A MP também altera o chamado "interstício" em uma jogada para beneficiar meia dúzia de protegidos, no gabinete do ministro. Há grande revolta entre os diplomatas.

   
Feliz 2006
Lula "alimenta" os carcarás da Agência Brasileira de Inteligência: na moita, aumentou de 55% para 91% do salário a gratificação dos seus espiões, via MP 269. Aumento médio de R$ 1 mil, nada mau rimando com ano eleitoral.

Friday, January 13, 2006

João Mellão Neto Tudo começou em 1988


ESTADÃO


O presidente Lula padece de um mal que poderíamos chamar de "deficiência auditiva seletiva". Ele não consegue ouvir o que não lhe interessa. Na última terça-feira, na cerimônia preparada para comemorar o pagamento antecipado da dívida com o FMI, ele acolheu de bom grado todos os elogios que lhe fez Rodrigo de Rato, diretor-gerente do Fundo, e, curiosamente, não escutou nenhuma das suas críticas. Don Rato, ex-ministro da Economia da Espanha, sabe do que fala. Coube a ele presidir o árduo processo de ajustes econômicos para o ingresso e a permanência de seu país na União Européia. Louvações à parte, o principal recado que ele deixou - e fez questão de reiterar várias vezes - é o de que o Brasil "não está aproveitando todo o seu potencial de crescimento". E listou uma série de providências, a seu ver, necessárias.

Descontados os eufemismos e as gentilezas diplomáticas, o que Don Rato fez foi nos passar um pito. Ele alertou que, sem novas reformas "que elevem as taxas de poupança e investimento" e acelerem "o aumento da produtividade", em pouco tempo o Brasil deixará de crescer. Citou, em especial, as dificuldades que existem por aqui no que tange à "rigidez orçamentária", à "abertura e regulamentação das empresas" e também ao "irrealismo da legislação trabalhista". Poderia ter ido além, mas talvez não conheça a fundo todas as vicissitudes brasileiras no que se refere ao ambiente empresarial e à gestão dos recursos públicos.

Vamos tentar entender o contexto. A economia internacional vive um momento de euforia e liquidez raramente visto em toda a História. A média de crescimento dos PIBs, no mundo inteiro, é de 3,5% a 4% ao ano. Nos países emergentes ela é ainda maior, algo como 6% a 7%. O Brasil fechou o ano de 2005 com algo próximo a 2%. Cresceu, é verdade, mas muito menos do que cresceram os demais países no mesmo patamar de desenvolvimento. Governos competentes conseguem aproveitar-se dessas ondas de crescimento internacional para alavancar o país. O governo JK é um exemplo. Aproveitou-se de um período de grande liquidez mundial e, por estar aparelhado com um preciso plano de metas, logrou desenvolver o Brasil a taxas superiores a 8% ao ano. No governo militar, ocorreu outro desses momentos "mágicos" das finanças internacionais - de 1968 até a crise do petróleo, em 1973 -, no qual o País cresceu à média de 10% ao ano.

Pois bem, estamos vivendo novamente "anos de ouro" na economia mundial e nosso crescimento, em contrapartida, é medíocre. Desde os anos 80 não logramos alcançar nenhum período de crescimento sustentado. Por que o Brasil parou de crescer?

De tudo o que já li e ouvi, o diagnóstico, a meu ver, mais preciso está nas páginas do excelente livro de Mailson da Nóbrega O Futuro Chegou. Ele vai direto ao ponto: a nossa desgraça econômica nasceu com a Constituição de 1988. E, apesar de ela já ter sido emendada mais de 40 vezes, o seu ranço populista, corporativista e antiempresarial ainda se faz presente em nossos ordenamentos jurídico, social e econômico.

Resumindo o argumento de Mailson, o que ocorreu foi o seguinte. Em vez de se aproveitar de uma estrutura prévia, construída por grandes juristas e especialistas, a Assembléia Constituinte decidiu partir do ponto zero, no qual até a evocação de Deus, no preâmbulo, foi motivo de polêmica. Parlamentares podem ser excelentes antenas da vontade popular, mas, na maioria, não possuem conhecimentos abalizados para estruturar uma Constituição. Os seus 245 artigos, somados às 70 disposições transitórias (talvez a maior Constituição do mundo), foram disputados pelas diferentes correntes de opinião e pelos lobbies específicos, vírgula por vírgula. O Muro de Berlim não havia caído, de modo que muitas ilusões esquerdistas ainda prevaleciam. O resultado não poderia ter sido outro. Uma colcha de retalhos que, nas palavras de Mailson, é uma obra que "aglutina utopia, socialismo, estatismo, intervencionismo, paternalismo, assistencialismo, corporativismo, casuísmo e demagogia (...)".

Em detrimento da livre negociação entre as partes, uma penca enorme de "direitos" trabalhistas ganhou status constitucional, onerando de forma proibitiva as folhas de salários e gerando, por conseqüência, o crescimento do desemprego e do subemprego.

No campo fiscal, foram aumentados os repasses obrigatórios das receitas da União para Estados e municípios, além de vinculação obrigatória de porcentuais das receitas a despesas específicas. Desde então, para fazer frente aos dispêndios, que se multiplicaram, a solução tem sido, gradativamente, aumentar a carga tributária, que passou de 24% do PIB, em 1988, para quase 38%, atualmente. Além de onerar excessivamente as atividades produtivas, os novos tributos criados são todos de péssima qualidade, elaborados a toque de caixa, sob medida para não serem, parte deles, repassados a outras esferas administrativas.

O viés antiempresarial não se reflete apenas no que tange a encargos trabalhistas, tributários e previdenciários. Ele está, também, na gigantesca burocracia, que faz com que o tempo necessário para abrir ou fechar uma empresa seja de até dez anos.

Com todo este entulho legal-constitucional, não é de surpreender que, desde a Constituição, há quase duas décadas, o Brasil tenha crescido a taxas medíocres. O atual governo, com o estancamento do processo de privatizações e a inapetência para promover reformas constitucionais, pouco tem ajudado para melhorar esse quadro.

O Brasil está perdendo tempo, advertiu o diretor do FMI. Lula não ouviu. Ele é um surdo de sorte. O mundo vai bem. Se não fosse, o seu governo já teria ido para o brejo.

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Thursday, January 05, 2006

O bruxo e o feiticeiro - Monica Bergamo folha 03/01






Marlene Bergamo / Folha Imagem

O escritor Paulo Coelho guia José Dirceu em Betharram, cidadezinha do sul da França



Marlene Bergamo / Folha Imagem

O escritor Paulo Coelho guia José Dirceu em Betharram, cidadezinha do sul da França

O bruxo e o feiticeiro

Na igreja de Notre Dame de Betharram, no sul da França, aos pés de uma ladeira de um quilômetro que reproduz a via-crúcis, o escritor Paulo Coelho sentou e chorou. "Olha o milagre! Uma porta que estava fechada se abriu, no primeiro dia do ano!" Era a porta da igreja, que se abriu porque Coelho interceptou um religioso betharramita passeando no pátio interno. Mais um minuto e o padre Firmino, que estava se retirando para seus aposentos, já estaria dentro de sua casa. Coelho não o encontraria, a porta não se abriria e então... sabe-se lá!

 

Nada é por acaso, repete sempre o mago-escritor. E aquela porta se abrir, no dia 1º de janeiro, em que ele está recebendo José Dirceu na França e levando-o para conhecer justamente o complexo de Betharram -ordem religiosa que instalou um colégio em Passa Quatro, interior de MG, no Brasil, onde o ex-ministro de Lula estudou -só pode ser um sinal de Deus.
 

Aflito, o escritor procura Dirceu para que ele entre na igreja. Mas o ex-ministro desapareceu na ladeira da via-crúcis. Sozinho, subiu o caminho de um quilômetro, cumprindo o calvário de Cristo. Parou em 13 das estações, representadas por capelas - e terminou num cemitério. Agnóstico desde os 13 anos, rezou.
 

Depois de alguns minutos, Dirceu desponta no horizonte. Já chega "governando". "Vou mandar instalar uma lápide para os padres de Passa Quatro", diz. Critica a má-conservação do lugar. Conta que parou na estação da traição de Judas. "E vi ele lá." E como era esse Judas? Barbudo? Dirceu solta uma gargalhada. Chamava-se Judas Lula da Silva? Dirceu ri mais ainda. Não responde.
 

O pequeno grupo -Coelho, sua mulher, Cristina Oiticica, Dirceu, o escritor Fernando Morais, o escritor Mario Rosa e sua mulher, Dayana -visita a igreja. Coelho reza. Dirceu compra uma imagem de Nossa Senhora de Betharram para a mãe. Faz uma doação de 50 (cerca de R$ 138) para a igreja. O padre tira fotos. Abençoa o grupo. "Viva Passa Quatro!", diz. "Viva Passa Quatro!", repetem todos.
 

Dirceu e Morais entram no Audi de Coelho para pegar a estrada rumo a Tarbes, cidadezinha do sul da França onde todos estão hospedados. Ela é vizinha de Saint Martin, vilarejo de 300 habitantes onde Coelho vive com Cristina, aos pés dos Pirineus.
 

Coelho está no auge da vida -e isso há quase duas décadas. Não pára de vender livros, arrebatar fãs por todo o mundo (é editado em 150 países, em 59 idiomas) e ganhar dinheiro. Muito dinheiro. Acaba de trocar a editora Rocco pela Planeta por 800 mil -ou R$ 2,4 milhões. O próprio carro em que roda agora pelas estradas francesas carregando José Dirceu é um exemplo.
 

A Audi pediu a ele que fizesse um texto de 6.000 caracteres para ser divulgado exclusivamente no balanço a ser distribuído aos acionistas no começo de 2006. Quanto Paulo queria em troca? "Um Audi", respondeu. A empresa mandou o último modelo. Precinho: 100 mil (R$ 280 mil). Fernando Morais fez os cálculos: cada letra -e cada espaço em branco - de Paulo Coelho custa 16 (R$ 44). "Me disseram que o [Ernest] Hemingway recebia U$ 5 por palavra", informa Coelho, cheio de orgulho. Recentemente ele foi convidado para dar uma palestra. Cachê: 60 mil (R$ 166 mil). "Eu não quis", diz. "Não gosto de falar."
 

Há alguns meses, ele comprou a casa do vizinho para derrubar e poder ter a vista livre para os Pirineus. Coelho fez a proposta de compra sem saber o preço da casa. "J.P Morgan já dizia: quem pergunta o preço é porque não pode comprar", diz o escritor.
 

Por que um homem no auge do sucesso, um ídolo da classe média do Brasil e do mundo, recebe em sua casa, para as festas de fim de ano, um homem que vive hoje o ápice de um fracasso político, que acaba de ser cassado, que virou uma espécie de "demônio" para essa mesma classe média - e que nem seu leitor é? Os dois mal se conhecem, foram aproximados pelo escritor Fernando Morais, biógrafo de ambos. "Já beijei a lona. Sei como é", diz Coelho. "Tenho que ter solidariedade." E arremata, dedo em riste: "Mohamed Ali já dizia: todos os que já estiveram no topo, e beijam a lona, sabem como voltar." Dirceu um dia pode voltar. E Coelho o terá ajudado quando ninguém a ele estendia a mão.
 

O ritual de despedida de 2005 e de saudação do novo ano de Coelho durou três dias e três noites. Na sexta, 30, o escritor recebeu com um jantar, em sua casa de três quartos, sala, copa, cozinha, toda feita de madeira, pedra e vidro, os amigos que chegavam de várias partes do mundo para as festas.
 

Foram 20 pessoas, que vieram da Polônia, da Finlândia, da Croácia, da própria França e do Brasil. Amigos próximos do casal Paulo e Cristina: os editores e os médicos dele, o cabeleireiro dela, vizinhos de ambos -e uma feiticeira, Jaqueline, que vive na floresta dos Pirineus.
 

Na "vitrola", só Roberto Carlos. Ao lado, na mesma sala, o computador onde Paulo escreve. "Falaram no Brasil que o Dirceu viria para a minha mansão. Isso é mansão?", dizia o escritor. O terreno tem 80 mil m2.
 

O último a sair foi o escritor Mario Rosa, com quem Coelho conversou até as 5h. Os dois só se conheciam por e-mail. Coelho é fã do livro de Rosa, "Síndrome de Aquiles", que fala do mito que foi derrotado por um único erro. O mito Paulo Coelho é cuidadoso. "Quero o Mario cada vez mais próximo."
 

No dia 31, o casal levou os amigos ao restaurante Le Petit Gourmand, de Tarbes. Na ceia, ravióli de foie gras, coquilles St. Jacques com trufas e endívias caramelizadas, carne com risoto de aspargos, sobremesas de chocolate. Dirceu sentou-se ao lado do escritor. Lá pelas tantas, no ambiente tomado pela fumaça de cigarros e charutos, Coelho perguntou: "Você tem projeto de voltar ao poder?" E Dirceu: "No governo Lula? Não."
 

Dirceu vai tirar dois anos sabáticos. Diz que tem dinheiro guardado. Foi convidado para ser colunista de um jornal do Rio, "por um bom dinheiro". Pretende ganhar também com o livro que fará sobre o governo Lula. Coelho avalia Lula. "O Hugo Chávez [da Venezuela] se posiciona, o George Bush se posiciona. O Lula ainda está no meio do caminho. O Hugo Chávez tomou o espaço dele. Ele precisa se posicionar", diz. "Tá querendo muito do Lula", brinca Dirceu, baixinho.
 

À meia-noite, todos foram para a gruta de Lourdes. Chovia. Pouco se via, a não ser, ao longe, a própria gruta, e dentro dela, Nossa Senhora. Dirceu quis ficar até o fim da missa. "Deus não existe. Mas vai que existe, né?", brincou.
 

No dia 1º, a ceia foi na casa de um amigo de Coelho, Fréderic Bonomelli, em Hibarete, outra cidadezinha da região, com 138 habitantes. Ele fabrica presunto do porco Le Noir de Bigorre, o porco negro, primo do pata negra espanhol. A noite foi de vinhos, boa comida e cantorias, de músicas francesas da "confraria do porco" a canções brasileiras de Coelho. "Quando caminho pela rua lado a lado com você me deixas louca", cantavam as mulheres. "Eu nasci há dez mil anos atrás...", cantavam os homens.
 

No fim da noite, a pedidos, Paulo Coelho cantou "Gita", dele e de Raul Seixas: "Eu sou o medo do fraco/ A força da imaginação/ O blefe do jogador/ Eu sou, eu fui, eu vou". O escritor pediu um brinde a Raul Seixas. Todos levantaram seus copos. Os rituais de ano novo tinham terminado.

Wednesday, January 04, 2006

QUOTATION OF THE DAY


"All of my remaining days, I will feel tremendous sadness and regret for my conduct and for what I have done."
JACK A. ABRAMOFF, a Washington lobbyist, pleading guilty in a corruption case.
The image

January 4, 2006
The Overview

Lobbyist Accepts Plea Deal

WASHINGTON, Jan. 3 - Jack Abramoff pleaded guilty to three felony counts on Tuesday as part of a settlement with federal prosecutors, instantly becoming the star witness in a sweeping federal investigation into public corruption in Washington. The inquiry could involve as many as a dozen lawmakers, people involved in the case said.

Mr. Abramoff, 46, once a prominent Republican lobbyist, accepted a recommended reduced prison sentence of about 10 years in exchange for testifying against former associates in the influence-peddling case. The agreement also requires Mr. Abramoff to pay more than $26 million in tax penalties and restitution to former clients, although he has told associates he is broke.

The corruption inquiry involving Mr. Abramoff, potentially one of the most explosive in Congressional history, has expanded in recent months to encompass dozens of political operatives, including former Congressional aides and lobbyists suspected of arranging bribes in exchange for legislative work, participants in the case said.

His testimony, coupled with that of Michael Scanlon, a former Abramoff business associate who pleaded guilty in November, reaches into the executive and legislative branches and appears to be drawing an ever-tighter ring of evidence around the former House Republican majority leader, Tom DeLay, and other senior Congressional Republicans.

Standing hunched in a dark suit in front of a Federal District Court judge, his eyes downcast as the plea deal was announced, Mr. Abramoff bore little resemblance to the brash operative who in hundreds of e-mails messages obtained by prosecutors once boasted about his financial kickbacks, referring to them as a "gimme five" scheme.

Instead, in front of Judge Ellen Huvelle, Mr. Abramoff confessed to making "a multitude of mistakes" during a decade or so of lobbying work. In a soft, grainy voice, he pleaded guilty to defrauding at least four Indian tribes of tens of millions of dollars, enticing government officials with bribes and evading taxes.

"All of my remaining days, I will feel tremendous sadness and regret for my conduct and for what I have done," Mr. Abramoff said. Emerging from the courthouse into a light drizzle wearing a black fedora, he slipped into a waiting car and was driven away. His next public appearance is scheduled for Wednesday in Florida, when he will plead guilty in a related case.

Mr. DeLay, who has taken in thousands in campaign donations from Mr. Abramoff and accompanied the lobbyist on a lavish golf trip to Scotland in 2000, has denied any wrongdoing. Richard Cullen, a former United States attorney representing Mr. DeLay, said his client "is confident that when the Department of Justice completes its investigation and gets to the bottom of this that they will conclude that he did nothing wrong." No lawmaker has been charged in the case.

Court documents filed Tuesday gave a snapshot of what Mr. Abramoff has been telling investigators during their plea negotiations over the last year and a half.

In one instance cited in court documents, Mr. Abramoff directed favors to a senior DeLay staff member - referred to in documents as "Staffer A," but identified by lawyers as Tony C. Rudy, now a Republican lobbyist. Those favors came in the form of payments to Mr. Rudy's wife, Lisa. Mr. Abramoff paid $50,000 to Lisa Rudy through a charity organization in exchange for her husband's "agreement to perform a series of official acts," the plea agreement said.

"Abramoff, Scanlon and others engaged in a course of conduct through which one or both of them offered and provided a stream of things of value to public officials in exchange for a series of official acts and influence," the agreement states.

Also mentioned in the plea agreement was a "Representative No. 1" who, along with members of his staff, accepted gifts, travel and free meals at Mr. Abramoff's restaurant, Signatures, in exchange for legislative help, including inserting a comment into the Congressional Record designed to help Mr. Abramoff with a business deal. Representative Bob Ney, Republican of Ohio, was identified as this figure after court documents were filed in connection with Mr. Scanlon's plea deal. Although Mr. Ney did not deny his association with Mr. Abramoff and Mr. Scanlon on Tuesday, he insisted, as he has in the past, that he was tricked by the two men into doing work on behalf of their lobbying clients.

According to people involved in the case, Mr. Ney's former chief of staff, Neil Volz, is referred to in the documents as "Staffer B," and is accused in the paperwork of violating the one-year lobbying ban after leaving Mr. Ney's office before beginning to lobby his former boss again. Lawyers for Mr. Rudy and Mr. Volz did not return calls seeking comment.

Mr. Abramoff helped funnel more than $1.5 million in campaign donations to hundreds of elected officials, more than half of them Republican, since 2000, according to analyses of his work. As prosecutors threatened to indict him - and ultimately, late Monday night, worked out a negotiated settlement after weeks of intense wrangling - the government's lawyers argued that Mr. Abramoff had gone past the routine business of campaign fund-raising and political glad-handing into the realm of bribery. Or, as Assistant Attorney General Alice S. Fisher put it on Tuesday, Mr. Abramoff "went far beyond lawful lobbying."

"Government officials and government action are not for sale," Ms. Fisher said, flanked by senior law enforcement officials at a news conference at the Justice Department.

As part of his all-encompassing settlement, Mr. Abramoff plans to plead guilty on Wednesday to two charges of conspiracy and fraud in a related case in Miami stemming from his purchase of a casino boat line, SunCruz Casinos, in 2000. He was scheduled to stand trial in that case next Monday.

That plea provides that all other charges against Mr. Abramoff in the case will be dropped, people familiar with the plea agreement said. He may face up to about seven years of prison time for the Florida charges, but that sentence can be served concurrently with the Washington sentence under the terms of his deal with Justice Department prosecutors. How much time Mr. Abramoff will spend in prison will be determined later, after he has fulfilled most of his obligation to help investigators.

Mr. Abramoff has been in talks with prosecutors for some 18 months, his lawyer in Washington, Abbe D. Lowell, said. According to people involved in the case, all of whom spoke on condition of anonymity because the broader investigation is continuing, Mr. Abramoff at times offered guidance to investigators as they pursued other targets.

According to participants in the case, he has shared information about David H. Safavian, a former Bush administration official indicted last year, and Tim Flanigan, the Tyco executive who withdrew his nomination as the second-in-command at the Justice Department after his ties to Mr. Abramoff came into question.

Tyco is also mentioned, although not by name, in the plea agreement. According to the court document, Mr. Abramoff sent a business proposal to "Company A," a manufacturing and services company identified by participants as Tyco. Mr. Abramoff "falsely advised" the company about the grass-roots company that he suggested they hire, and which in turn kicked back huge sums to Mr. Abramoff.

Mr. Abramoff told Tyco "that he was negotiating on their behalf" to try to save them money "when in fact he was simply setting a high price on services that he controlled and from which he would profit."

The publicly released court documents, followed by the Justice Department's news conference about the case, were designed as a "shot across the bow" to other potential suspects in the inquiry, a person involved said.

"With most cases, the plea is the end, but with Abramoff, the plea is just the beginning," said an F.B.I. official who spoke on condition of anonymity, adding, "This one has legs."

Eric Lichtblau and Carl Hulse contributed reporting for this article.


Sunday, January 01, 2006

Editorial de O GLOBO

Agenda especial

Por coincidir com o calendário das eleições, 2006 já seria um ano especial. Porém, pelas particularidades do que estará em jogo na escolha do sucessor de Luiz Inácio Lula da Silva, ele tem um pedigree comparável ao de 2002, quando, pela primeira vez, chegou ao poder no país um grupo de esquerda, sacramentado pelo voto, ungido pelo estado de direito, sem qualquer ruído institucional. A mais civilizada transição de poder de que se tem notícia na República, de Fernando Henrique Cardoso a Lula, amplificou ainda mais o peso histórico do que ocorreu há três anos.

Os rumos que tomará a campanha eleitoral indicarão se, como se espera, a sociedade sairá das eleições enriquecida politicamente, e a nação mais madura e confiante para enfrentar outros quatro anos de um período da História em que o equilíbrio do poder econômico e político mundial passa por intensas transformações. Vive-se um ciclo em que um erro de visão, um passo mal dado na definição de prioridades poderá custar, para qualquer país, perda irreversível de terreno na disputa por mercados globalizados, por investimentos cujo destino é decidido cada vez mais em escala planetária, e por tecnologias disponíveis apenas para nações capazes de absorvê-las e aperfeiçoá-las.

O PT e o presidente entram na fase final de governo contabilizando ganhos e também perdas consideráveis e evidentes. Na coluna dos lucros, Lula pode creditar, apesar de todas as ambigüidades, o apoio dado até agora à única filosofia de política macroeconômica capaz de manter a inflação sob controle e permitir que a economia aproveite de alguma forma os bons ventos da economia mundial, os melhores desde o final da Segunda Guerra.

Mesmo o mais obtuso dos opositores dessa política não pode deixar de reconhecer os mais positivos indicadores externos já acumulados pelo Brasil — a dívida, bandeira dogmática de radicais, desapareceu dos slogans ideológicos simplesmente porque começou a encolher. Não pode também deixar de admitir que a inflação tendia a fugir de controle em 2003, e só não fugiu — para o bem dos pobres que muitos desses críticos se arvoram defender — porque as políticas monetária e, em segundo plano, fiscal, não permitiram.

No alentado capítulo das mazelas, o PT, e por tabela Lula, carregam as marcas do escândalo do valerioduto, em que o partido destruiu a imagem de gladiador único da moralidade pública, de detentor do monopólio da lisura na política.

Até porque as CPIs continuarão a operar, será inevitável o escândalo ocupar lugar de destaque na campanha. E mesmo que as comissões já tivessem encerrado os trabalhos, há cassações a deliberar no plenário — para ajudar a manter o escândalo na agenda político-eleitoral. É natural e mesmo desejável que a ética na política — ou a falta dela — seja discutida na campanha. Como se constatou, o PSDB e o PFL também deixaram impressões digitais nos esquemas ilícitos. Um mal com essa extensão não pode ser esquecido.

Mas é preciso incluir nessa agenda um ponto nevrálgico para a nação: qual o Estado que queremos? Não é pergunta de efeito, tampouco descolada do cotidiano do brasileiro. Pelo contrário. É saber dos candidatos o que pensam sobre os impostos — excessivos — e sobre como o dinheiro da sociedade deve ser gasto: em quais políticas públicas, sob que sistemas de controle e de avaliação de resultados. Faturar e o que fazer com o dinheiro em caixa são questões usuais no setor privado. Não, infelizmente, num Estado de longa tradição de avidez na arrecadação de impostos e sólida e ativa ineficiência na aplicação do que coleta.

A campanha de 2006 coincide com o esgotamento de um modelo fiscal que jogou todo o peso do ajuste sobre o contribuinte e no corte de investimentos — em prejuízo, como se tem visto, da infra-estrutura do país. Foi por isso que a carga tributária atingiu sufocantes 37% do PIB, depois de dar um salto de cerca de dez pontos percentuais desde o início da era FH. O que também permitiu o aumento intencional dos gastos correntes — de 9% do PIB em 1980, eles seriam o dobro vinte anos depois.

O próximo presidente terá de escolher entre manter esse modelo, e com isso estimular a informalidade na produção e no mercado de trabalho — e ainda ameaçar o país com a volta da inflação — ou retomar reformas deixadas pelo caminho (completar a da previdência do funcionalismo, propor mais uma para o INSS, a trabalhista etc.). Além de rever as distorções nos gastos sociais, um instrumento à disposição das tentações populistas, muito fortes em ano eleitoral.

Não há soluções mágicas para recolocar o país na rota do crescimento a altas taxas, da qual se desviou na década de 80, e jamais a reencontrou. Uma parte dessa operação de retorno está cumprida, com o controle da inflação — uma conquista a ser preservada. Falta o trecho restante da expedição, relacionado à modernização do Estado. A campanha eleitoral pode e deve servir de bússola nessa jornada.