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Monday, June 13, 2005

Lula é o culpado

Lula é o culpado
Antonio Fernandes (13/06/05 17:47)

Permitida a reprodução citando a fonte
http://www.e-agora.org.br

Reproduzo abaixo - com alguns comentários adicionais - excertos de nota já publicada aqui, intitulada "O culpado é Lula". Me pareceu que o tempo de exposição da matéria na homepage deste e-Agora não foi suficiente para uma reflexão mais demorada sobre o seu conteúdo.

1 - Lula é o culpado. Mas não apenas pelos motivos que estão sendo apresentados por jornalistas e analistas políticos.

A culpa maior não é pela verdadeira corrupção no atacado (que acompanha necessariamente o fisiologismo no atacado) que o PT foi obrigado a fazer para governar sem projeto e sem expertise.

A corrupção maior é a do espírito público. Mas tem também muita corrupção no sentido de degeneração moral e de perversão política.

2 - Alguns estão tentando isentar a priori Lula de qualquer culpa. Acham que, com isso, estão pagando um justo tributo à estabilidade política da nossa República. É um engano.

Quem dirá se Lula tem ou não tem culpa nesse triste episódio de compra de aliados com dinheiro vivo e em muitas outras irregularidades, que campeiam no Brasil dos últimos vinte e oito meses, serão as investigações, os inquéritos parlamentares, as reportagens da imprensa.

3 - Qualquer pessoa inteligente já sabe que Lula é o grande culpado, senão pelos delitos em si, pela configuração geral que permitiu que eles acontecessem de modo tão generalizado e com características endêmicas.

No entanto, por que será que todo mundo que se julga "responsável" está fazendo tanta questão de dar uma mãozinha a Lula? Por acaso pode-se concordar com a sua administração desastrada (e desastrada em todos os sentidos)? Por acaso pode-se concordar com a sua política confusa?

Se não é por concordância é para defendê-lo de que? Por acaso existe alguém, alguma força política brasileira ou estrangeira, minimamente expressiva, atacando Lula? Quem está fazendo isso?

Se não é para defendê-lo de eventuais ataques, é por medo? Medo de que? Por acaso existe alguma crise revolucionária "no ar"? Estamos vivendo alguma situação parecida com a da Bolívia? O povo está tomando as ruas e as praças, dinamitando os viadutos, descarrilando os trens e metrôs? Isso tem a mínima chance de acontecer no Brasil de hoje?

4 - Não há motivo algum para salvar Lula do incêndio.

Por que não se deve salvar Lula do incêndio (que, como Nero, foi ele mesmo que ateou)? Porque – como dissemos tantas e tantas vezes neste e-Agora – Lula é a crise. Lula é o culpado. Lula é o comandante dessa camarilha. Lula não só participou mas montou esses esquemas heterodoxos que hoje nos espantam. Não estou me referindo às denúncias recentes e sim ao que todo mundo sabe: aos esquemas de aparelhamento do Estado.

5 - Não adianta entregar Dirceu às feras. Dirceu ou não-Dirceu dá no mesmo enquanto tivermos Lula. Dirceu só tem poder para dentro do aparelho. Dirceu não é nada sem Lula. Foi trabalhando à sombra de Lula – e muitas vezes contra ele - que Dirceu se cacifou. Mas Lula sempre soube disso. Sempre teve seu próprio esquema, sua própria entourage, seu próprio destacamento de sindicalistas e ex-sindicalistas, hoje estrategicamente colocados em cargos-chave estatais e para-estatais, por acaso nos lugares onde existe grana, nos fundos de pensão, no Sistema 'S', nas estatais e nos conselhos de empresas. Você duvida, caro leitor? Então faça uma pesquisa em busca dos trinta maiores amigos do peito do presidente.

Lula sempre teve seus operadores, gente com pensamento estratégico, gente oriunda da luta armada contra a Ditadura mas deformada o suficiente para aceitar qualquer tipo de missão, gente que atua quase clandestinamente, que monta os organogramas de ocupação do Estado e mapeia tudo cuidadosamente.

Lula é o grande operador. Opera basicamente em duas frentes, trabalhando em coisas que nada têm a ver com a função quotidiana e aborrecida de administrar o país. Opera montando esquemas, usando o que aprendeu nos aparelhos sindicais e partidários. E opera no palanque, onde se especializou em iludir e enganar pelo discurso.

6 - Há um certo temor reverencial pela liderança de Lula. Bobagem. A liderança de Lula não é capaz de fazer nada extraordinário pelo bem do Brasil. Não sou eu que estou dizendo. Basta ver os resultados políticos e administrativos de dois anos e meio de seu governo. E um governo que transcorreu até agora – em sua maior parte – quase sem oposição.

Pelo contrário, o que estamos vendo agora é o perigo que representa uma personalidade desse tipo na chefia de um Estado. Sobretudo se estiver acompanhado de amigos e inimigos íntimos (como Dirceu e tantos outros) que florescem na sua sombra, irresponsáveis. Sim, apesar de tudo o que está acontecendo, a imprensa, os empresários, boa parte dos políticos, inclusive os analistas políticos, ainda não viram que estamos, literalmente, nas mãos de irresponsáveis.

Para eles, pouco importam as instituições. Eles não acreditam nessas instituições.

7 - Repito. O PT e o governo são irresponsáveis. O PT não teme a crise. O PT quer a crise. O que o PT teme é não obter a reeleição. Nada mais importa. Se estiver em jogo a completa degeneração do quadro político institucional ou a reeleição, Lula e o PT ficam com a reeleição.

Por isso, o único apoio que o governo quer é o apoio para sua reeleição (porque o projeto de poder do PT passa necessariamente pela reeleição e pelas surpresas que estão prometidas – Deus nos livre – em um segundo mandato).

8 - No entanto, se o PSDB, acometido pela síndrome da "oposição responsável", quiser agora, sinceramente, dar a mão a Lula para evitar qualquer tipo de desestabilização (que não haverá, insisto, como pode concluir qualquer pessoa que tenha dois neurônios funcionando) ou, marotamente, para cozinhá-lo em fogo brando, para que ele se desgaste mais e caia de podre nas vésperas do próximo pleito, estará, com isso, jogando o futuro do país na loteria e arriscando o seu próprio patrimônio de credibilidade.

9 - Se Lula quer realmente tornar-se responsável pelo futuro do Brasil e salvar a sua biografia deve, em primeiro lugar, começar a governar.

Em segundo lugar deve fazer uma reforma radical, desentranhando o PT da máquina pública. Não basta remover Dirceu, tirar Meirelles e Jucá. Tem que tirar também todos os aparelhistas e os incompetentes, como Olívio e Humberto. Tem que tirar os homens do esquema sindical, como Berzoini. E tem que desocupar os escalões inferiores que foram infestados pela militância.

Em terceiro lugar deve abrir mão da reeleição. É o óbvio. Enquanto seu governo tiver como único projeto a reeleição, não haverá governo e o Brasil estará jogado para escanteio.

10 - A oposição está quieta. Antes assim. Quando não se sabe o que fazer é melhor ficar quieto mesmo.

A oposição, ao que parece, está esperando o governo se desgastar cada vez mais. É uma tática óbvia, que dispensa o pensamento estratégico.

Mas o governo ainda não está morto. Lula ainda pode renascer das cinzas. Nos últimos dias, aliás, está tendo a maior ajuda que alguém já recebeu de uma grande rede de comunicação. Só falta a ele, neste momento, a ajuda da oposição. Um folegozinho para poder se recuperar e continuar enganando como antes. Quem sabe até tentando a reeleição com chances de vitória.

A oposição acredita que o melhor, em tese, seria Lula concluir tranqüilamente o seu mandato e deixar o governo em 2006. Como na piada do domador, só faltou combinar isso com o leão.

Por outro lado, não podemos apagar os fatos, esquecer as denúncias, desfibrar a atuação oposicionista, para conseguir o melhor em tese. Porque em política, o "melhor em tese" não existe. Existe somente o que acontece.

11 - Nenhuma força política minimamente expressiva quer apear Lula do governo antes do tempo. Certo. No entanto, ele está afundando por seus próprios deméritos. Não cabe à oposição ajudar a mantê-lo se ele mesmo não se mantém. Certo ou errado?

Errado. A manutenção artificial de Lula por cima das leis, dos princípios democráticos e de toda a decência, isso sim poderia criar uma desestabilização institucional grave.

Não será a oposição que gritará "Fora Lula". Esse grito pode amanhã vir das ruas, mas não virá em virtude de qualquer trabalho de agitação e propaganda feito pela oposição. Aliás, o líder do PSDB na Câmara já até cunhou a palavra de ordem inversa: "Fica Lula". É engraçado, mas não é suficiente. Melhor seria dizer: "Governa Lula", mas governe para o país, não para o seu grupinho, não para o seu partido.

Agora se ele ficar e não conseguir governar, a culpa é de quem? Da oposição? Não. A culpa é – única e exclusivamente – dele mesmo. Se ele ficar e não conseguir governar e, com isso, o Brasil continuar escorregando ladeira abaixo, uma crise de verdade, muito mais séria do que tudo o que assistimos até aqui, poderá irromper. E aí a oposição também não saberá o que fazer.

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