A QUEDA DO PRIMEIRO MINISTRO |
Karla Correia |
Jornal do Brasil |
17/6/2005 |
Brasília - Foi com um tom de declaração de guerra que o ministro José Dirceu anunciou ontem sua retirada da Casa Civil. Justamente o homem forte do Palácio é o primeiro de uma iminente reforma preparada pelo presidente Lula para os próximos dias. Dirceu, que foi um dos principais focos da pior crise enfrentada pelo governo, deixa o Planalto onde ocupou durante 30 meses a sala no quarto andar e resistiu ao escândalo envolvendo o ex-subchefe de Assuntos Parlamentares, Waldomiro Diniz. Na próxima quarta-feira, o ministro demissionário reassume seu mandato na Câmara, entrando no campo onde se desenrolam os maiores problemas do governo e deixando o presidente Lula livre para as negociações partidárias. O anúncio de sua saída foi o ponto final de uma negociação que começou há dez dias com o presidente, quando o escândalo do pagamento de deputados em troca do apoio a medidas defendidas pelo governo cercou o Palácio do Planalto. Dirceu tinha reunião marcada com o presidente ontem, às 16h. Antes, participou de duas cerimônias ao lado de Lula. O pedido de demissão foi entregue ao presidente por carta. Também por escrito, Lula aceitou. A despedida foi solene. Alguns ministros choraram. Metade dos assentos arrumados no Salão Leste do Planalto estava ocupada por funcionários e assessores da Presidência e da Casa Civil, que aplaudiram o discurso forte de Dirceu. – O governo do presidente Lula é a minha paixão, é a minha vida. E eu, ao sair, deixo aqui parte do meu coração, isso todos sabem. Mas não deixo minha alma, ela vai comigo para a luta (...) Eu não me envergonho de nada do que fiz no governo do presidente Lula. Tenho as mãos limpas, coração sem amargura. Saio de cabeça erguida do ministério, e quero repetir que continuo no governo, como deputado da base de sustentação. Continuo no governo, sou do PT – concluiu Dirceu. A saída será publicada na edição de terça-feira do Diário Oficial da União. Enfrentar a denúncia direta do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), afirmando que o chefe da Casa Civil tinha conhecimento do esquema do "mensalão" será a primeira batalha que Dirceu terá de encarar na Câmara. Os parlamentares que se reuniram na cerimônia de despedida chegaram com um discurso afinado. A saída de Dirceu foi classificada como uma grande perda, o fim de um ciclo do governo, mas sua atuação do Congresso, em defesa da honra do governo e do partido, será essencial. Existe ainda a preocupação que as denúncias coloquem Dirceu em uma posição delicada diante da Comissão de Ética da Câmara. Por outro lado, a expectativa é que ele componha, junto com outros ministros do PT cotados para deixar a Esplanada pelo Congresso, uma força-tarefa que encorpará a hoje enfraquecida base de sustentação do governo no Parlamento. Nessa posição, o segundo desafio será colocar em movimento a agenda que o governo tenta emplacar no Congresso. Só nesta semana, o Executivo enviou ao Parlamento uma proposta de emenda constitucional, instituindo o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e uma medida provisória que prevê a desoneração de setores produtivos. Uma longa lista de projetos se encontra paralisada no Congresso. Na segunda-feira, Dirceu ainda comparecerá ao Planalto para ajudar a definir o destino da Casa Civil. A estratégia do governo em torno da CPI dos Correios também fará parte da audiência. Enquanto Dirceu fazia seu último discurso no cargo, ministros soluçavam e choravam. Jaques Wagner (Secretaria de Desenvolvimento Econômico) foi o que mais chorou. Também derramaram lágrimas Aldo Rebelo (Coordenação Política) e Paulo Bernardo (Planejamento). O chefe de Gabinete Pessoal da Presidência, Gilberto Carvalho, também chorou. Já Antonio Palocci (Fazenda) ajeitou os óculos várias vezes. Mas não chorou. As íntegras das cartas de Dirceu e de Lula estão no JB Online, www.jb.com.br |
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Friday, June 17, 2005
A QUEDA DO PRIMEIRO MINISTRO
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