LUÍS NASSIF
Idéias e fisiologia Há duas maneiras de assegurar a governabilidade no país, dentro desse modelo político frankenstein. A primeira é ter um programa de governo legítimo, com amplo apoio da opinião pública -entendida por tal aquele grupo mais amplo do que a elite, mais restrito e informado que a massa, que, em última instância, acaba pautando a mídia e, por tabela, os parlamentares. A massa, propriamente dita, manifesta-se apenas nas eleições. No restante do tempo, há uma interlocução entre atores restritos, o mais relevante dos quais é essa opinião pública midiática.
É um grupo influente, mas curtido em decepções. É o pessoal que acreditou nos planos de estabilização da era Sarney, na eleição de Collor, no governo Fernando Henrique Cardoso ouviu e repetiu até a véspera da desvalorização cambial que o câmbio fixo iria salvar o Brasil e, logo após a desvalorização, que quem acreditava nisso era burro.
Quando o governo se fortalece nessa frente legitimadora, cai o custo das alianças políticas. Opinião pública e mídia se influenciam reciprocamente, numa rua de mão dupla, e, a partir daí, influenciam o Parlamento. Quando não se possui discurso legitimador, todo o jogo da governabilidade é depositado na perna da fisiologia. No fundo, esse festival de escândalos decorre do erro primal, de adotar um discurso econômico que já tinha se esgotado completamente no segundo governo FHC. E ter que pagar a conta.
Estabilidade, responsabilidade fiscal, cuidados com a inflação já são valores dados. Não é fácil construir um novo discurso e livrar-se do velho modelo. O rentismo brasileiro conseguiu essa babel ideológica de associar taxas de juros estratosféricas à responsabilidade de gestão e gastos sociais à inflação. É a "gastança" do governo que alimenta a inflação, numa confusão primária de ineficiência sistêmica dos gastos com variação de preços (para influenciar a inflação, o governo hoje teria que ser mais ineficiente do que o mesmo governo no ano passado).
Na semana passada, o "Campo Majoritário" -a ala hegemônica do PT, que junta Lula, Mercadante, Genoino, Dirceu- divulgou documento que, sem atacar diretamente a política econômica de Palocci, foge das simplificações desse monetarismo à brasileira. "O processo de inclusão social e distribuição de renda -por meio de emprego, saúde, educação e políticas de geração de atividade e renda- não deriva automaticamente do patamar já alcançado até agora. Esse processo deve ser construído em conjunto com o processo de estabilização", conforme narrou o repórter Fábio Zanini na Folha de domingo.
É um começo, mas sem meio e sem fim. Há que existir um grupo sistematizador, que junte os estudiosos para definir um programa de desenvolvimento consistente, com começo, meio e continuidade. Lula conferiu ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) essa incumbência. Falta a perna institucional. Principalmente, faltam atos coerentes que apontem para essa direção.
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Wednesday, June 08, 2005
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