O que malfeito começa bem-feito não acaba. O inferno do PT começou no dia seguinte ao da vitória de Lula. Duas providências eram essenciais. A primeira, juntar a tropa, os soldados e os exércitos aliados e enquadrá-los. A segunda, montar sistemas de informação para monitorar suas ações. A terceira, não abrir a menor brecha para as manobras individuais.
Há um manual de financiamento político tacitamente aceito, que certamente não passa nem por mesadas nem por propinas. Sempre existem fornecedores querendo agradar ao rei. Esses fornecedores financiam todos os partidos, de prefeitos a governadores de Estado e presidentes. É a hipocrisia mais explícita da legislação eleitoral. Quando se deixa a rédea solta, misturam-se negócios de partidos com privados, sai-se das regras do jogo e entra-se pela balbúrdia.
A autorização para matar surgiu no momento em que se permitiu ao tesoureiro Delúbio Soares passear livremente pelo Palácio e por empresas a serem beneficiadas por políticas públicas.
O segundo problema do governo foi o profundo curto-circuito emanado dos dois centros de pensamento do governo: o ortodoxo-monetarista e o dito desenvolvimentista. O ortodoxo herdou uma fórmula pronta de Fernando Henrique Cardoso e não mexeu. Comete erros bisonhos de política monetária, mas conseguiu se apropriar de valores relevantes para a opinião pública: a impessoalidade no trato com a coisa pública. Com sua política, beneficia setores, não pessoas.
Já os desenvolvimentistas não conseguiram articular um discurso coerente para se contrapor à Fazenda. E, no afã de assegurar a governabilidade, colocaram a mão na massa e a bota no barro.
O escândalo é a continuação da política. É a arma da qual se vale a oposição quando, entre uma eleição e outra, o governo perde legitimidade. FHC que o diga, com o festival de insinuações que o atingiu após a desvalorização do real. Safou-se porque conseguiu manter sua base aliada coesa e porque as acusações eram inconsistentes.
Agora, o fogo se volta contra Lula. E pode chegar a um ponto sem retorno, caso não se comprovem cabalmente falsas as acusações de pagamento de "mesada" aos deputados.
O jogo político é como luta de boxe. O murro no fígado, no começo da luta, vai se refletir na energia do boxeador mais à frente. Por isso mesmo, jamais o governo poderia ter permitido o acúmulo de esqueletos no armário. Caso Waldomiro, Correios, vampiros da Saúde, IRB, Celso Daniel, inconsistentes ou consistentes, tinham que merecer respostas imediatas. Nessa hora, o estadista corta até a própria pele. Mas Lula não conseguiu nem sequer completar a reforma ministerial, demonstrando a mesma falta de "timing" político que quase liquidou com o segundo governo FHC.
Agora é aguardar a tormenta baixar. Se houvesse um Mário Covas vivo, o país se voltaria para ele, como referência. Mas a única referência é FHC, que abdicou de sua condição de pensador do mundo para se converter em assoprador de fogueira.
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Tuesday, June 07, 2005
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