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Monday, June 20, 2005

Milton Temer :Da crise redundante, o que sobra?


''O que eu fiz foi decisão partidária. Se eu sair vai ter de sair todo mundo''. A frase, reproduzida pelo Jornal do Brasil, no relato da última reunião do diretório nacional do Partido dos Trabalhadores, é do secretário-geral Silvio Pereira. O ''todo mundo'', a que ele se referiu, segundo a Folha de S.Paulo, e também entre aspas, estende-se a Dirceu, Genoino, Delúbio e Marcelo Sereno. Decisão final? Não houve. O tema do afastamento temporário sequer entrou na pauta da reunião.

Impressionante como, em apenas dois anos e meio de mandato, uma cúpula partidária consegue aproximar da lixeira da história um dos mais belos projetos políticos que o povo trabalhador brasileiro já conseguiu construir. Depois de duas décadas de difícil caminhada até a vitória, em lapso quase imperceptível, tudo parece ir do sonho ao pesadelo.

Está aí uma crise contra o governo Lula que só tende a se agravar com a abertura dos trabalhos da CPI dos Correios e da Comissão de Ética da Câmara. Uma crise mais que anunciada. Previsível, pela maioria parlamentar forjada com as ''más companhias'' do baixo clero da Câmara.

Mas, se derrotou o governo do PSDB para, traindo o voto recebido, aprofundar o que os tucanos antes não haviam conseguido realizar, por que o governo petista não se compôs de pronto com eles no Congresso? Seria mais barato e transparente. Afinal, na trincheira fundamental dos interesses financeiros que o mandarinato FHC havia representado, não hesitaram em colocar Henrique Meirelles. Mais do que executivo principal de um dos bancos estrangeiros que mais se locupletou na desvalorização cambial de 99, o novo presidente do Banco Central havia sido eleito deputado federal exatamente pelo PSDB.

Faltou coragem, talvez, de explicitar, naquele momento, a guinada doutrinária conseqüente dos acordos de submissão feitos, em Washington, com os banqueiros internacionais? Pode ser.  Eram tempos de ''transição necessária'' e de suposto ''plano B'', hoje enterrados, depois de fazer reféns as tendências de esquerda petista. Resultado: preferiram disfarçar, compondo com legendas de aluguel, cujos representantes só pensam a coisa pública como espaço para negociatas.

Deu no que deu. Revelado um episódio de corrupção explícita nos Correios, o deputado Roberto Jefferson vai para as manchetes. Ocorre que o outrora ''tropa de choque'' do governo Collor, e defensor das políticas de FHC, se tornara um dos mais fiéis aliados do governo Lula. Como conseqüência, virou ''parceiro'', a quem o presidente entregaria um ''cheque em branco, assinado''.

Jefferson não o decepcionou. Fez muito pior. Colocou-o no foco de um crime de prevaricação. O entourage do presidente se viu constrangido a reconhecer, depois de um dia de negativas, que o deputado havia comunicado ao Chefe de Estado a existência de um poderoso esquema de corrupção na Câmara, coordenado por burocratas da mais estrita confiança no Planalto. 

O PSDB, ávido por fulminar apenas Dirceu no esquema dos Correios, meteu pé no freio. Lula e Palocci não poderiam ser metidos na confusão. São os que garantem a moderação, e melhor é cozinhá-los até a eleição de 2006. José Alencar é risco, por suas concepções menos ortodoxas em economia.

Tem razão, portanto, a senadora Heloisa Helena, quando ironiza a alternância entre amor platônico e ódio visceral, que rege a relação PT-PSDB. ''Um, querendo ser o que o outro foi ontem''. E é verdade. O PSDB parecia o PT de oposição em seu horário eleitoral obrigatório de semana passada, na televisão. Principalmente no trecho da campanha presidencial de Geraldo Alckmin: duras críticas à política monetarista do Banco Central, e condenação do dispêndio de recursos do Tesouro no pagamento de juros da dívida do governo.

Nada a criticar, não desempenhasse Alckmin o papel de roto falando do esfarrapado. Não fora o governo FHC responsável pela consolidação do processo neoliberal de desmonte do Estado, iniciado em Collor, e potencializado pelo governo Lula.

Não há, portanto, como não concluir. Por ter se rendido aos poderosos que antes enfrentara, sem ousadia no combate por prometidas transformações, além de ver seus próximos envolvidos em desvios éticos, Lula se igualou aos tucanos e vai deixar de ser opção das esquerdas em 2006.  A senadora Heloisa Helena tem espaço para crescer.

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