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Thursday, June 29, 2006

REINALDO AZEVEDO A patrulha dos petralhas e André Gide

A patrulha dos petralhas e André Gide

Vocês acreditam que os petralhas tentaram aparelhar até o meu blog, a exemplo do que fizeram com a entrevista que dei ao Observatório da Imprensa? Alguns já mandaram mensagens me esculhambando — em vez de discordar disso ou daquilo, como seria razoável — e, claro, eu não as publiquei. Sim, este blog tem um Poder Moderador: "Eu". E agora estão protestando. Revista, vá lá, é coisa cara de fazer. Eu até compreendia, na extinta Primeira Leitura, que alguns "exigissem" que suas mensagens de desaforo fossem publicadas — nunca cedi. Mas blog? É de graça! O cara que faça o seu se acha que me xingar é uma coisa importante. Se eu me ofender, processo. Simples e democrático. A privatização promovida pelo governo FHC, felizmente, propiciou o grande desenvolvimento da tecnologia da informação, democratizando-a. O mais engraçado que tentam me encostar na parede apelando a meu "espírito democrático". Rá, rá, rá. André Gide tem uma frase interessante — que não vai entre aspas porque reproduzo apenas o sentido: não permitirei que outros, em nome dos seus princípios (ou falta deles), me neguem o que eu jamais lhes negaria em nome dos meus. Entenderam? Se vai entrar na minha casa, não vai me xingar. Afinal, nem mesmo posso dar uma muqueta no nariz do cretino. Isso não impede que o petralhismo possa me ler. Mas vai ficar quietinho, como um cão tolerado pela gerência. Ou aprender a debater sobre duas patas. Sei que assim não ganho adeptos para as minhas supostas causas. Não sou pastor de ovelhas, de almas ou de metáforas.

Monday, June 05, 2006

Política - O País do Mensalão, um ano depois

Política - O País do Mensalão, um ano depois


Valor Econômico
5/6/2006

O que o Brasil aprendeu com as denúncias do chamado Mensalão, feitas há um ano? Para a maioria da opinião pública, a sensação imediata e por uns cinco meses era de que a bombástica entrevista do deputado Roberto Jefferson, um herói sem nenhum caráter tal qual Macunaíma, produziria a maior crise da redemocratização recente. Haveria depuração ética no Congresso Nacional, quiçá a reformulação de vários aspectos do sistema político e, para alguns mais apressados, o sepultamento do Governo Lula e do seu partido. O resultado final, contudo, foi outro: houve um pequeno número de parlamentares cassados, por enquanto há uma baixa repercussão eleitoral do assunto e, sobretudo, não se constituiu um projeto modernizador de nossas instituições, capaz de reduzir as chances de novos valeriodutos e afins. A maior lição de tudo isso é que o País se tornou capaz de conhecer suas mazelas mais do que em qualquer época histórica, porém, ainda não sabe como acabar com os males que descobre e repugna.

A análise pessimista dos resultados da crise política é a predominante hoje. Entretanto, há visões diferentes quanto aos fatores que mais ressaltariam o desastre do processo. Para uns, a liderança de Lula nas pesquisas é o maior sinal de que o País piorou após todas as denúncias. Segundo este raciocínio, como os mais importantes líderes PT estiveram, de um modo ou de outro, no centro do valerioduto e afins, o Brasil só teria aprendido com o Mensalão se punisse tais pessoas, inclusive o presidente da República, que deveria saber o que estava ocorrendo ao seu redor. Caso não fosse possível o impeachment, pensa esta corrente, pelo menos o projeto reeleitoral deveria ter naufragado completamente.

Argumentos corretos fazem parte desta visão. O PT deve inúmeras explicações à sociedade brasileira, principalmente porque seu ideário defendia exatamente o oposto que se constatou no financiamento arquitetado por Marcos Valério e chefes petistas. Não importa saber se Lula conhecia ou não os episódios. O essencial seria ele ter condenado com mais veemência os atos de seus colegas partidários, alguns muito próximos do poder. Em política, o pedido de desculpas não é irrelevante, mas bem mais importante é punir e deixar marcado que não se tolerará mais os comportamentos recriminados pela população.

Em outras palavras, o presidente da República teria, pela legitimidade que detém, de comandar uma reforma em seu partido, fazer as mudanças que estavam ao seu alcance- por exemplo, fazer uma devassa nos Correios e noutros órgãos acusados de corrupção - e, acima de tudo, propor ao Congresso Nacional uma reformulação nas instituições que possibilitaram o valerioduto. Se fizesse tudo isso, Lula sairia maior da crise em termos de biografia política, independentemente dos possíveis efeitos eleitorais.

Descobrimos defeitos mas não os modificamos

Os que centram sua crítica apenas no PT e no presidente Lula, todavia, sofrem de uma séria miopia política. Neste grupo, a maioria simplesmente queria derrubar o governo e/ou evitar a reeleição. São os eleitores mais antipetistas e antilulistas, além de grande parte da oposição. O discurso padrão deles é conhecido: o Mensalão foi o maior episódio de corrupção de nossa história e quem o produziu deve ser urgentemente extirpado do poder. Os mais exaltados desse lado chegaram a dizer que queriam se livrar por 30 anos "dessa raça".

Os fatos revelados pela crise são muito graves. Só que o partidarismo, o emocionalismo e a falta de perspectiva histórica atrapalharam muitos analistas. O valerioduto e afins não foi o maior episódio de corrupção da história do Brasil, e sua proeminência se deve à transparência e ao controle social atuais, avanços inéditos em nossa trajetória. Observe-se, por exemplo, o regime militar. Houve um crescimento enorme da dívida externa ao mesmo tempo em que obras faraônicas foram idealizadas, sendo que algumas sorveram bilhões de dólares sem que tivessem sido terminadas. Recomendo ao leitor-eleitor que visite a Transamazônica e perceberá que a corrupção já foi maior em outras épocas.

A maior enganação do último ano foi a criação de uma imagem de muitos políticos oposicionistas, que se colocaram acima do bem e do mal em termos éticos. Nunca acreditei em salvadores da pátria e homens puros, maneira pela qual os petistas neo-udenistas se apresentavam. Mas ao ver na TV certos congressistas, conhecidos por suas estripulias passadas, como fazer escuta ilegal de pessoas comuns ou comandar oligarquias regionais sabidamente corruptas, comecei a me preocupar com o destino das investigações. Não deu outra: quando as denúncias começaram a respingar em importantes integrantes dos partidos oposicionistas, preferiu-se cozinhar em "banho-maria" o presidente, considerado à época politicamente liquidado. Quem sabe fazer contas deve ter percebido que muitos deputados foram absolvidos graças a votos - ou ausências - que vieram também da oposição.

A transformação de uma séria denúncia de corrupção em tão-somente objeto de disputa político-partidária não foi obra do presidente Lula. Os oposicionistas ajudaram petistas e parlamentares de partidos que sempre foram "mensaleiros", inclusive no Governo FHC, a desmoralizar o processo de investigação, sepultando as esperanças de milhares de brasileiros que acreditavam ter então a chance de passar a limpo o País.

A oposição só poderia expurgar os males da perversa aliança entre Marcos Valério e os petistas se liderasse um processo de reforma institucional, admitindo que o problema detectado era estrutural, e não apenas conjuntural. Mas sua estratégia moveu-se mais pelo calendário eleitoral, tal qual fazia o PT em momentos similares do Governo FHC.

A perspectiva histórica realça que é preciso ir além do pessimismo. O Brasil passou por toda esta crise com instituições democráticas extremamente fortes. Nunca fomos tão transparentes, nunca conhecemos tanto os defeitos do sistema político brasileiro. Falta aprender a corrigir os males detectados. E, infelizmente, o debate político e a mobilização social estão ainda no estágio do desconstruir, e não do construir.