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Wednesday, May 18, 2005

Villas-Bôas Corrêa:A roça dos erros


O presidente Lula não pode culpar o caiporismo pela coincidência dos escândalos em série, pipocando de todos os lados, no exato momento em que soca na caixa do peito as pancadas do arrependimento e tenta remendar os estragos, começando pelo ensaio de articulação de um acerto no Congresso, especialmente com a Câmara, dominada pelo baixo clero e enlouquecida pela bagunça, para juntar os cacos da sua base aliada com a boa vontade de amplas áreas oposicionistas.

Apelar para a desculpa do azar na coincidência de escabrosas denúncias é querer tapar com guarda-chuva roto a tempestade que desaba, com raios e trovões, de uma crise mais profunda e de gravidade que não se esconde com a máscara do disfarce.

O governo colhe os frutos podres de erros primários da teimosia, da inexperiência e da omissão, na semeadura que começou logo nos primeiros dias depois da posse do presidente, há dois anos, quatro meses e doze dias. Se o tinhoso candidato perseguiu o sonho de chegar à Presidência em três derrotas e na vitória consagradora sem aproveitar os muitos anos com todo tempo à disposição para corrigir as deficiências da sua formação de notórias dificuldades, pelo menos poderia ter mirado nos equívocos do seu antecessor, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, uma das suas obsessões e dos seus cupinchas.

Com a diferença irrelevante de que FHC tropeçou na pressa em garantir o direito à reeleição e inverteu a prioridade natural de completar as reformas que caminhavam rapidamente no Congresso para jogar todas as fichas no segundo mandato. A manobra desastrada contaminou os oito anos: o governo enfraqueceu-se ao ceder à barganha dos votos por vantagem e nomeações.

Lula chegou ao governo com a rota desimpedida. E as condições ideais de prestígio, popularidade, a escora dos 53 milhões de votos no segundo turno para seguir a lição da sabedoria e aproveitar o instante mágico que dura pouco para arrancar do Congresso, de graça, a aprovação das reformas dos seus compromissos de quatro campanhas.

Com a estrada pavimentada à sua frente, enveredou pelos atalhos dos erros e da arrogância. Não precisava aprender nada quem já sabia tudo na vitoriosa ascensão do maior líder sindical do país. E deu no que se está vendo. As reformas empacaram, adiadas para sempre. Nem mais são cobradas. Ninguém fala em reforma agrária, em reforma política, reduzida a paliativos irrelevantes, embora necessários, como o fim da verticalização que obriga a coerência das alianças partidárias em todos os níveis, do imoral troca-troca de partidos e outras ninharias; em reforma administrativa, em reforma judiciária.

Se não soube aproveitar a hora das reformas também não cuidou de aprender os rudimentos primários da administração. O paquiderme ministerial de 26 ministros e secretários não disse ao que veio, salvo as exceções de praxe. No vazio das omissões, prosperam as crises e as distorções. O que não foi feito na hora certa não tem mais conserto.

Perdido e afinal desperto, Lula lança-se ao improviso dos alinhavos de trapos nos rombos. Não sabe para que lado deve voltar-se. A aflitiva articulação de reuniões com os presidentes do Senado, da Câmara e dos partidos, dos líderes de bancadas e do infalível ministro José Dirceu tem uma oportunidade em um milhão de render mais do que declarações formais. Nem o governo tem nada para oferecer, nem é viável um entendimento com a participação do deputado Severino Cavalcanti.

A podridão que contamina a Assembléia Legislativa de Rondônia, com as cenas de corrupção explícita exibidas no vídeo com o elenco de vários parlamentares e do governador Ivo Cassol, que gravou as propostas de propinas de deputados estaduais, respinga lama para todos os lados. Com o apimentado da decisão do desembargador Gabriel Marques, presidente do Tribunal de Justiça do Estado, proibindo a exibição da reportagem pela afiliada da Rede Globo, com descarado retorno da censura à imprensa.

Os episódios de novela da corrupção no nicho dos aliados do PTB, envolvendo o presidente do partido, deputado Roberto Jefferson - que só pode ser cauterizado com uma Comissão Parlamentar de Inquérito - e da histórica sentença da juíza Denise Appolinária, da 76ª Zona Eleitoral de Campos, que puniu o casal Anthony Garotinho e Rosinha, declarado inelegível por três anos, completam o quadro caótico em que se debate o governo.

E a saída é a cada dia mais difícil e improvável.
jb

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