<br> <p style="font-weight: bold;" align="justify"> </p> <div style="font-size: 70%; line-height: 160%; font-weight: bold;" id="corpo"> <font size="2">O governo se divide mais uma vez, e, desta vez, em uma grave questão política, ainda que possa, a olhos desavisados, parecer um assunto menor. O Ministério do Turismo quer abolir a exigência de vistos para os norte-americanos que visitam o Brasil. Outros setores do governo são contra a liberalidade, com o mais singelo dos argumentos: só poderemos conceder o que nos concedem. No momento em que brasileiros estiverem dispensados desta formalidade para entrar nos Estados Unidos, poderemos agir da mesma forma. A reciprocidade é o reconhecimento do respeito entre as nações.</font> <p align="justify"> <font size="2">Os ritos são necessários. Não podemos abrir as portas de nossa casa a quem nos fecha as suas. O fato de que sejam turistas não muda a situação. As nações podem ser mais poderosas ou menos poderosas; mais prósperas ou menos prósperas, mas não podem, em nome de interesses econômicos, perder o respeito. As relações internacionais resultam de acordos multilaterais e bilaterais. Em todos eles, prevalece o princípio do direito inviolável de um país aceitar ou não a visita de qualquer cidadão estrangeiro. Mesmo quando se dispensa o visto prévio, os agentes dos serviços de imigração podem, em nome da soberania do Estado, negar o ingresso a qualquer um, de acordo com as normas internas. Podemos entender que o ministro de Turismo, homem de sucesso em seus negócios privados, raciocine em termos empresariais e suponha que, abolido o visto e, assim, abolidas as taxas cobradas dos turistas, os resultados econômicos compensem essa exigência aparentemente protocolar. Houve mesmo quem a considerasse "uma bobagem ideológica".</font> </p><p align="justify"> <font size="2">A ideologia nada tem a ver com isso. É incorreto imaginar que os setores do governo, que se opõem a essa liberalidade, estejam na esquerda, e o Ministério do Turismo na direita. Governos de direita ou de esquerda sempre agiram da mesma forma. No caso especial de nossas relações com os Estados Unidos, há alguns fatos que devemos levar em conta. Desde o Império temos nos confrontado com a arrogância americana, como ocorreu na famosa Questão Christie. Recentemente, no clima paranóico provocado pela explosão das torres de Manhattan, até mesmo um chanceler brasileiro, o ministro Celso Lafer, foi constrangido, no governo passado, a descalçar-se em Washington, para mostrar, com os pés nus, que a sua visita não ameaçava a segurança dos norte-americanos. Talvez o inusitado da situação tenha impedido o conhecido intelectual de entender que todos os brasileiros eram humilhados naquele momento. Se houvesse refletido melhor, negar-se-ia ao constrangimento, regressaria ao Brasil para convocar o embaixador dos Estados Unidos e exigir desculpas imediatas de Washington.</font> </p><p align="justify"> <font size="2">Quando, neste governo, em legítimo ato de reciprocidade, a Polícia Federal exigiu dos turistas norte-americanos que se submetessem ao mesmo ritual de identificação dactiloscópica a que estavam sujeitos os cidadãos brasileiros nos Estados Unidos, dois deles quiseram ofender-nos com gestos obscenos. A dignidade nacional foi assegurada, no último episódio, com a prisão e a deportação dos que nos insultaram. </font> </p><p align="justify"> <font size="2">Não se trata de bravatas, mas de necessária manifestação de dignidade. Se aceitarmos passivamente a idéia de que os países menos militarizados devem curvar-se aos mais bem armados, deveremos abolir os governos nacionais e solicitar, dos mais poderosos, o estatuto de protetorado. Por outro lado, parece preguiçosa a argumentação de que perderemos receita, porque muitos turistas não estariam dispostos a pagar pela emissão do visto. Não será por causa da taxa que os turistas deixarão de vir. O que tem impedido maior desenvolvimento do turismo entre nós é a falta de boa estrutura hoteleira, a preços razoáveis; é a falta de bons profissionais, é o temor diante das notícias de violência nas grandes cidades brasileiras.</font> </p><p align="justify"> <font size="2">Perderemos muito mais do que dólares, se curvarmos a espinha e oferecer aos cidadãos dos Estados Unidos o que eles nos negam. Estaremos perdendo a dignidade.<br> <font size="4"><span style="color: rgb(102, 0, 0); font-family: trebuchet ms;">JB</span></font><br> </font> </p></div>
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Friday, May 06, 2005
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