De acordo com o IBGE, o IPCA, índice que baliza a meta de inflação, registrou, durante o mês de abril, alta de 0,87%, refletindo aumentos acentuados de preços de alimentos. No acumulado dos últimos 12 meses, o indicador alcançou 8,07%. Esse patamar elevado reflete choques de oferta, tais como a elevação do petróleo no mercado internacional e problemas com a safra agrícola brasileira. Além disso, os reajustes automáticos dos preços administrados (serviços de telefonia e energia elétrica) ajudam a transmitir para o futuro a inflação passada.
As expectativas, no entanto, são de que nos próximos meses a inflação vá cair. Os agentes econômicos projetam uma taxa em torno de 6,47% no final do ano e de 5% para 2006. Essa perspectiva de melhora não parece, entretanto, autorizar prognósticos sobre mudanças relevantes na política de juros e na tendência de valorização do real. Embora dentro dos intervalos de tolerância, as projeções para este ano e para o ano que vem continuam acima das metas perseguidas pelo Banco Central.
Esse quadro suscita questões sobre o comportamento da atividade produtiva. As condições atuais já projetam uma desaceleração do PIB (Produto Interno Bruto) de 5,2% em 2004 para cerca de 3% em 2005. Para o primeiro trimestre do ano, consultorias, como a MB Associados, prevêem um crescimento de 4,1% em relação ao mesmo período de 2004 e de 0,5% em relação ao trimestre imediatamente anterior, com base no consumo doméstico e nas exportações.
A recuperação do rendimento médio real do trabalhador, mesmo que de forma modesta, associada à ampliação do crédito consignado (com desconto em folha), com taxas de juros em torno de 1,5% e 3% ao mês, garantiu a manutenção das vendas. Além disso, o aumento do volume de recursos e o alongamento dos prazos de pagamento diluíram os encargos dos financiamentos, fazendo com que o valor das parcelas "coubesse" nos salários.
Esses fatores tendem, todavia, a se contrair com a elevação persistente dos juros. Por seu turno, as exportações, embora ainda robustas, já começam a sentir os efeitos da renitente valorização da taxa de câmbio.
Em resumo, embora as taxas de inflação mostrem-se sob controle, o fato de que estejam acima das metas deve levar o BC a preservar o rigor da política monetária, preservando a valorização do real. Sendo assim, os efeitos negativos sobre o crescimento devem se revelar mais fortes nos próximos meses, contrariando o otimismo retórico de membros do governo. E esse cenário pode-se tornar ainda menos auspicioso caso se confirme a tendência de desaceleração da taxa de crescimento global e de deterioração das condições financeiras internacionais.
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Sunday, May 15, 2005
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