Pergunta de algibeira: até que ponto vai o índice de corrupção do governo Lula?Alguma corrupção, todo mundo reconhece, sempre existe deste lado do Equador e do outro também. Mas há intensidades e tipos diferentes. Existe a roubalheira comandada do alto, à maneira de um projeto de governo acima de todos os demais. O Brasil teve, como caso isolado — pelo menos, é o que se acredita — o governo Collor.
Há também a ladroagem ocasional e localizada. Teria acontecido, para citar o exemplo mais recente, no governo Fernando Henrique. Sua epígrafe seria a frase notável de Mendonça de Barros (presidente do BNDES e depois ministro das Comunicações), dirigindo-se a companheiros dos altos escalões: "Senhores, estamos atingindo o limite de nossa responsabilidade."
Mesmo atingido, esse limite com toda certeza não foi ultrapassado naquele tempo, que se soubesse. A imagem que ficou dos oito anos de Fernando Henrique não chegou a ser negativa no item da honestidade (certamente não tanto como no capítulo de trapalhadas generalizadas) — e foi positiva em diversos outros.
O governo Lula poderá chegar ao seu último dia, digamos que ao fim de oito anos, com imagem semelhante. Será preciso melhorar bastante, na essência e na forma. Não se impõe apenas ficar aquém do "limite de responsabilidade" mas aumentar consideravelmente a eficiência na gestão das alianças políticas. Sem esquecer de forçar a redução do apetite das bases por cargos públicos.
Do jeito que as coisas foram conduzidas, a poucos deve surpreender a denúncia da existência de um esquema corrupto nos Correios. A se confirmar o conteúdo das fitas gravadas, quantos políticos em Brasília terão o direito de se declararem de queixo caído?
Com certeza não os da oposição. Como já contou um deles — vangloriando-se, naturalmente — no governo anterior praticava-se com os aliados a política da "mentira cívica". Ou seja, aos amigos de ocasião prometia-se tudo e quase nada se entregava.
Neste governo, muito se promete e bastante se entrega, tanto a militantes históricos como a aliados ocasionais. É comportamento que conduz à perda do controle sobre a máquina pública. Não adianta depois alegar que o pedido de CPI é jogada política. Claro: quantas coisas acontecem em Brasília que não são? Mas a CPI será também reação inevitável a uma política mal jogada pelo Palácio do Planalto.
o globo
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Thursday, May 26, 2005
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