e-agora
Na matéria de Otávio Cabral, na Veja que vai hoje para as bancas, intitulada "Quanto ele sabia?" (reproduzida ao lado neste e-Agora), há um parágrafo interessante. Escreve o jornalista Otávio que "um governador e dois senadores ouviram da boca de Marconi Perillo o relato completo de sua conversa com o presidente, em Rio Verde [sobre a existência do mensalão]. Perillo, porém, não quer mais se manifestar sobre o assunto. Explica-se: assim que veio a público confirmar a denúncia de Jefferson, reforçando que o caso do mensalão chegara aos ouvidos de Lula, o governador goiano foi repreendido pela cúpula dos tucanos. Até o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso entrou em cena para obter o silêncio do governador. Os tucanos alegaram que Perillo não deveria jogar mais lenha na fogueira, aprofundando a crise ainda mais, e comprometendo mortalmente a imagem do presidente Lula. Os tucanos, antes como agora, preferem que Lula permaneça no cargo e conclua seu mandato de forma melancólica, cedendo a cadeira para algum tucano eleito nas urnas. Eles querem evitar um desfecho radical para a crise pois isso faria do presidente uma vítima, um mártir. Preferem vê-lo purgar nas urnas os pecados que deixou grassar em seu governo. Cumprindo a determinação da cúpula tucana, Perillo não mandou sequer a carta que prometera enviar ao Conselho de Ética relatando tudo. O que o presidente da República tem a dizer sobre essa conversa com o governador goiano no dia 5 de maio do ano passado? A nota do Planalto não desmente nem confirma. "O presidente não se recorda de nenhum comentário a esse respeito", diz o comunicado oficial".
Pois é. Todo mundo já viu qual foi, até aqui, a tática do PSDB. Todo mundo viu que se trata de uma tática predominantemente eleitoral. Ocorre que um partido político em uma democracia representativa tem mesmo que se preocupar com as táticas eleitorais, mas não unicamente. Nem pode deixar que sua exacerbada preocupação com o processo eleitoral funcione como um anteparo da realidade.
É óbvio que todos os democratas – e mais do que os democratas, hoje já se pode dizer, todas as pessoas de bem que estão informadas e são capazes de analisar a situação – gostariam que Lula concluísse o seu mandato e fosse recompensado devidamente pelas urnas de 2006, recebendo o troco pelos seus malfeitos, pela sua indigência como chefe de Governo, pela sua inépcia administrativa e pela sua incompetência política. No entanto, a realidade não pode se adequar às nossas preferências. A realidade – permitam-me a platitude – é o que é, depende dos fatos e do seu encadeamento.
O PSDB está tão impregnado por suas particulares preocupações eleitorais que começou agora a brigar com os fatos. Já não tem mais coragem de afirmar que quer manter Lula em nome da governabilidade, pois teme, talvez, ser motivo de chacota. Qualquer pessoa razoável já viu que essa história de governabilidade, principalmente depois que virou a grande justificativa do PMDB fisiológico para exigir mais cargos, é uma balela, um engano ou um ardil. Agora fala que não devemos jogar lenha na fogueira, não devemos nos misturar para não sair salpicados de lama, que o governo vai se enterrar sozinho e outros argumentos taticistas. Mas isso não esconde, apenas revela, que toda essa preocupação de sair limpinho do lamaçal tem um acento exclusivamente eleitoral.
Qual é o problema de sair salpicado de lama? Quem está na chuva é prá se molhar, inclusive, eventualmente, de água suja. Um partido político, que tem um projeto para o país, não pode fazer ou deixar de fazer as coisas que julga corretas, apenas por conveniências eleitorais. Pior do que sair respingado de lama é deixar o país afundar na lama.
Se faltassem apenas três meses para o início da campanha eleitoral, o PSDB poderia estar certo por motivos táticos. Mas, infelizmente, falta ainda um ano inteiro! É tempo suficiente para uma imersão profunda das instituições republicanas no poço de imundícies cavado por Lula, pelo governo e pelo PT.
Ademais, parece óbvio que dar a Lula a trégua suficiente para que ele contorne a crise sem mudar de comportamento, além de não resolver a crise realmente, pode acabar revertendo o efeito eleitoral tão desejado.
A dificuldade tática do PSDB em tomar uma atitude mais proativa neste momento tem a ver com muitas coisas: com a sua história, com a sua falta de quadros forjados na luta política, com a sua dificuldade de analisar que a democracia não se resume às periódicas trocas eleitorais, mas se constrói no dia a dia.
Deixar no governo – sem que dele se exija uma mudança de comportamento – aquele que é o responsável pela situação em que vivemos, por mais 365 longos dias, não é uma atitude responsável com o país, com as instituições republicanas e com o processo de democratização da sociedade brasileira.
Pois para que Lula se salve do naufrágio, ele terá que abafar os escândalos, "melar" os inquéritos das comissões parlamentares, usar as instituições do Estado (como a ABIN e a Polícia Federal) para produzir efeitos psico-sociais mistificadores, manipular a opinião pública em larga escala (por meio da propaganda oficial e de mentirosos discursos de palanque), urdir tramas, forjar versões enganadoras (como a que está sendo agora operada pela trinca de malfeitores Valério-Delúbio-Dirceu), venezuelizar as disputas no plano simbólico (sim, senhores, venezuelizar mesmo, pelo menos parte do eleitorado na base do "pobre contra o rico" e não adianta vir dizer que no Brasil não existem condições objetivas para tanto, porque eles vão fazer isso, aliás, já começaram). O PSDB se sente em condições de avalizar toda essa monstruosa operação salva-Lula?
Não? Então não há remédio! Tem que "botar o guizo no pescoço do gato" ao invés de ficar esperando o "Fiat Elba" do Lula. Esperar um eventual "Fiat Elba" para não se confrontar com a opinião pública (que ainda inocenta, em sua maioria, a pessoa de Lula dos escândalos que seu governo e seu partido patrocinaram) não é uma razão política e sim um motivo de conveniência política de ocasião. Ou seja, o motivo é, novamente, não sair mal na foto. Que foto? Ora, a foto da propaganda eleitoral de 2006.
O "Fiat Elba" pode não aparecer jamais (é o mais provável) e isso não inocenta nem retira um átimo das responsabilidades de Lula. Com ou sem "Fiat Elba", porém, Lula vai continuar degenerando as instituições, pervertendo a política, driblando a justiça e manipulando a opinião pública. E, para tudo isso, continuará usando, com objetivos privados – seus próprios objetivos de se manter no poder pelo maior tempo possível – o Estado brasileiro.
Pois é. Todo mundo já viu qual foi, até aqui, a tática do PSDB. Todo mundo viu que se trata de uma tática predominantemente eleitoral. Ocorre que um partido político em uma democracia representativa tem mesmo que se preocupar com as táticas eleitorais, mas não unicamente. Nem pode deixar que sua exacerbada preocupação com o processo eleitoral funcione como um anteparo da realidade.
É óbvio que todos os democratas – e mais do que os democratas, hoje já se pode dizer, todas as pessoas de bem que estão informadas e são capazes de analisar a situação – gostariam que Lula concluísse o seu mandato e fosse recompensado devidamente pelas urnas de 2006, recebendo o troco pelos seus malfeitos, pela sua indigência como chefe de Governo, pela sua inépcia administrativa e pela sua incompetência política. No entanto, a realidade não pode se adequar às nossas preferências. A realidade – permitam-me a platitude – é o que é, depende dos fatos e do seu encadeamento.
O PSDB está tão impregnado por suas particulares preocupações eleitorais que começou agora a brigar com os fatos. Já não tem mais coragem de afirmar que quer manter Lula em nome da governabilidade, pois teme, talvez, ser motivo de chacota. Qualquer pessoa razoável já viu que essa história de governabilidade, principalmente depois que virou a grande justificativa do PMDB fisiológico para exigir mais cargos, é uma balela, um engano ou um ardil. Agora fala que não devemos jogar lenha na fogueira, não devemos nos misturar para não sair salpicados de lama, que o governo vai se enterrar sozinho e outros argumentos taticistas. Mas isso não esconde, apenas revela, que toda essa preocupação de sair limpinho do lamaçal tem um acento exclusivamente eleitoral.
Qual é o problema de sair salpicado de lama? Quem está na chuva é prá se molhar, inclusive, eventualmente, de água suja. Um partido político, que tem um projeto para o país, não pode fazer ou deixar de fazer as coisas que julga corretas, apenas por conveniências eleitorais. Pior do que sair respingado de lama é deixar o país afundar na lama.
Se faltassem apenas três meses para o início da campanha eleitoral, o PSDB poderia estar certo por motivos táticos. Mas, infelizmente, falta ainda um ano inteiro! É tempo suficiente para uma imersão profunda das instituições republicanas no poço de imundícies cavado por Lula, pelo governo e pelo PT.
Ademais, parece óbvio que dar a Lula a trégua suficiente para que ele contorne a crise sem mudar de comportamento, além de não resolver a crise realmente, pode acabar revertendo o efeito eleitoral tão desejado.
A dificuldade tática do PSDB em tomar uma atitude mais proativa neste momento tem a ver com muitas coisas: com a sua história, com a sua falta de quadros forjados na luta política, com a sua dificuldade de analisar que a democracia não se resume às periódicas trocas eleitorais, mas se constrói no dia a dia.
Deixar no governo – sem que dele se exija uma mudança de comportamento – aquele que é o responsável pela situação em que vivemos, por mais 365 longos dias, não é uma atitude responsável com o país, com as instituições republicanas e com o processo de democratização da sociedade brasileira.
Pois para que Lula se salve do naufrágio, ele terá que abafar os escândalos, "melar" os inquéritos das comissões parlamentares, usar as instituições do Estado (como a ABIN e a Polícia Federal) para produzir efeitos psico-sociais mistificadores, manipular a opinião pública em larga escala (por meio da propaganda oficial e de mentirosos discursos de palanque), urdir tramas, forjar versões enganadoras (como a que está sendo agora operada pela trinca de malfeitores Valério-Delúbio-Dirceu), venezuelizar as disputas no plano simbólico (sim, senhores, venezuelizar mesmo, pelo menos parte do eleitorado na base do "pobre contra o rico" e não adianta vir dizer que no Brasil não existem condições objetivas para tanto, porque eles vão fazer isso, aliás, já começaram). O PSDB se sente em condições de avalizar toda essa monstruosa operação salva-Lula?
Não? Então não há remédio! Tem que "botar o guizo no pescoço do gato" ao invés de ficar esperando o "Fiat Elba" do Lula. Esperar um eventual "Fiat Elba" para não se confrontar com a opinião pública (que ainda inocenta, em sua maioria, a pessoa de Lula dos escândalos que seu governo e seu partido patrocinaram) não é uma razão política e sim um motivo de conveniência política de ocasião. Ou seja, o motivo é, novamente, não sair mal na foto. Que foto? Ora, a foto da propaganda eleitoral de 2006.
O "Fiat Elba" pode não aparecer jamais (é o mais provável) e isso não inocenta nem retira um átimo das responsabilidades de Lula. Com ou sem "Fiat Elba", porém, Lula vai continuar degenerando as instituições, pervertendo a política, driblando a justiça e manipulando a opinião pública. E, para tudo isso, continuará usando, com objetivos privados – seus próprios objetivos de se manter no poder pelo maior tempo possível – o Estado brasileiro.
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