A hora de mudar é agora
Antonio Fernandes
Da parte do PT e dos principais acusados, está sendo criada uma versão para isolar Lula do escândalo e reduzir todos os crimes petistas ao âmbito eleitoral. A última entrevista do Valério e a entrevista que será concedida por Delúbio fazem parte dessa mesma armação. (Os sócios da Daslu estão presos, mas os dois continuam soltos, armando versões e destruindo provas, não é fantástico?).
O objetivo é dizer que culpa – se há – é devida ao inadequado esquema de financiamento de campanhas vigente no país. E que, se é assim, todo mundo é culpado.
Da parte de Lula e do governo, a manobra é mais sórdida. Compreende ações espetaculares da Polícia Federal, para desviar a atenção dos inquéritos das comissões parlamentares, ações de marketing – como a recente viagem do presidente à França com direito à distribuição de milhares de caipirinhas –, choro presidencial (devidamente captado pelas câmeras de TV) ao ouvir a Aquarela do Brasil (como se estivesse fora do Brasil não 24 horas, mas 24 anos...), reforma do PT a partir do governo (incrível, numa situação de crise gravíssima, Lula desfalca o governo, cedendo seus ministros de confiança para reforçar a direção do PT) e enfim, circo, muito circo. Convenhamos, é muita farsa. Uma overdose.
Enquanto isso, os petistas escalados para as CPIs se esforçam para "melar" as apurações, com a ajuda de instituições comandadas pelo governo ou sob sua influência, que fazem corpo mole para atender às solicitações e delongam ao máximo o envio dos documentos necessários à continuidade dos trabalhos.
Lula decidiu que não vai sair, não vai se emendar e não vai mudar o seu comportamento. Continua investindo na fraude e na mistificação, falando uma coisa e fazendo o oposto e manipulando a opinião pública em ampla escala. Ele não sabe para onde vai, só sabe que quer continuar indo no mesmo caminho para salvar o seu projeto reeleitoral. O Brasil que se dane.
Sim, estamos nas mãos de um bando de irresponsáveis. E só as oposições, em especial o PSDB, querem ser responsáveis por um processo sobre o qual não têm – e não podem ter – qualquer responsabilidade, a não ser aquela de cobrar do principal e verdadeiro responsável (pois para tanto foi eleito) uma atitude compatível com as irregularidades que cometeu ou deixou que seus colaboradores cometessem.
O momento exige análise séria dos riscos que correm o país, as instituições republicanas e o processo de democratização da sociedade brasileira, para além das análises centradas apenas ou principalmente na viabilidade eleitoral de candidatos oposicionistas em 2006. E o momento exige uma mudança na tática das oposições. É agora – precisamente agora – a hora de mudar.
Antonio Fernandes está certíssimo. O cenário muda com rapidez. A oposição – e o PSDB, em particular – tem que rever com urgência sua linha de atuação. Para tanto, deve fazer uma leitura acurada dos últimos acontecimentos. A segunda entrevista de Marcos Valério à TV Globo não é o que parece. Assim como não será a entrevista de Delúbio Soares programada por José Dirceu no jornal O Globo.
Uma boa pista sobre a nova estratégia oficial de entregar algumas – ou até muitas – cabeças coroadas para salvar o pescoço de Lula está na coluna de hoje de Tereza Cruvinel, n'O Globo. No entanto, para que funcione será preciso combinar com os russos... Mídia, "elites", oposições – todos terão que ser convencidos:
a) de que o assalto sistêmico aos cofres públicos, dos quais Lula é o guardião legal, é só uma miragem;
b) de que o aparelhamento do governo, das estatais, dos bancos públicos e dos fundos de pensão pelo PT se deu sem o conhecimento – e, quem sabe, até à revelia – de Lula;
c) de que Lula nunca estranhou os rios de dinheiro que corriam para seu partido nem o mar de recursos que irrigou as campanhas milionárias dos petistas, incluindo a dele e a de Marta Suplicy, no ano passado;
d) de que Delúbio Soares fala a verdade quando diz que todas as campanhas petistas tiveram caixa 2, menos a de Lula. Por estratégia, a nova direção do PT espalha aos quatro ventos que o partido está endividado e quebrado. Na contabilidade oficial, é claro... No paralelo, são outros quinhentos (milhões?);
e) de que não foi dinheiro público que bancou a farra;
f) de que Lula não tinha a menor idéia do que seus velhos companheiros e homens da maior confiança engendravam na sala ao lado.
Prestem atenção nesta frase da coluna de Tereza Cruvinel: Para o PT, a confissão de Delúbio tornou-se crucial. Permitirá não apenas a separação entre o governo e os malfeitos partidários e evitará também o linchamento moral indiscriminado dos petistas.
Prestem atenção também na "confissão" que Delúbio fará, no jornal O Globo. Leiam com lupa. Ela conterá gatos e lebres. Não comprem os gatos por lebres, nem as lebres por gatos. Saber separar os bichinhos é crucial para que todas as premissas listadas acima não sejam aceitas bovinamente pela maioria da população. Se forem aceitas, minha sugestão é de que cada cidadão brasileiro alfabetizado escreva um milhão de vezes: "o idiota sou eu, o idiota sou eu, o idiota sou eu..."
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O objetivo é dizer que culpa – se há – é devida ao inadequado esquema de financiamento de campanhas vigente no país. E que, se é assim, todo mundo é culpado.
Da parte de Lula e do governo, a manobra é mais sórdida. Compreende ações espetaculares da Polícia Federal, para desviar a atenção dos inquéritos das comissões parlamentares, ações de marketing – como a recente viagem do presidente à França com direito à distribuição de milhares de caipirinhas –, choro presidencial (devidamente captado pelas câmeras de TV) ao ouvir a Aquarela do Brasil (como se estivesse fora do Brasil não 24 horas, mas 24 anos...), reforma do PT a partir do governo (incrível, numa situação de crise gravíssima, Lula desfalca o governo, cedendo seus ministros de confiança para reforçar a direção do PT) e enfim, circo, muito circo. Convenhamos, é muita farsa. Uma overdose.
Enquanto isso, os petistas escalados para as CPIs se esforçam para "melar" as apurações, com a ajuda de instituições comandadas pelo governo ou sob sua influência, que fazem corpo mole para atender às solicitações e delongam ao máximo o envio dos documentos necessários à continuidade dos trabalhos.
Lula decidiu que não vai sair, não vai se emendar e não vai mudar o seu comportamento. Continua investindo na fraude e na mistificação, falando uma coisa e fazendo o oposto e manipulando a opinião pública em ampla escala. Ele não sabe para onde vai, só sabe que quer continuar indo no mesmo caminho para salvar o seu projeto reeleitoral. O Brasil que se dane.
Sim, estamos nas mãos de um bando de irresponsáveis. E só as oposições, em especial o PSDB, querem ser responsáveis por um processo sobre o qual não têm – e não podem ter – qualquer responsabilidade, a não ser aquela de cobrar do principal e verdadeiro responsável (pois para tanto foi eleito) uma atitude compatível com as irregularidades que cometeu ou deixou que seus colaboradores cometessem.
O momento exige análise séria dos riscos que correm o país, as instituições republicanas e o processo de democratização da sociedade brasileira, para além das análises centradas apenas ou principalmente na viabilidade eleitoral de candidatos oposicionistas em 2006. E o momento exige uma mudança na tática das oposições. É agora – precisamente agora – a hora de mudar.
Cortem as cabeças. E salvem o pescoço de Lula...
Ana Maria Pacheco Lopes de Almeida (16/07/05 11:00)
Antonio Fernandes está certíssimo. O cenário muda com rapidez. A oposição – e o PSDB, em particular – tem que rever com urgência sua linha de atuação. Para tanto, deve fazer uma leitura acurada dos últimos acontecimentos. A segunda entrevista de Marcos Valério à TV Globo não é o que parece. Assim como não será a entrevista de Delúbio Soares programada por José Dirceu no jornal O Globo.
Uma boa pista sobre a nova estratégia oficial de entregar algumas – ou até muitas – cabeças coroadas para salvar o pescoço de Lula está na coluna de hoje de Tereza Cruvinel, n'O Globo. No entanto, para que funcione será preciso combinar com os russos... Mídia, "elites", oposições – todos terão que ser convencidos:
a) de que o assalto sistêmico aos cofres públicos, dos quais Lula é o guardião legal, é só uma miragem;
b) de que o aparelhamento do governo, das estatais, dos bancos públicos e dos fundos de pensão pelo PT se deu sem o conhecimento – e, quem sabe, até à revelia – de Lula;
c) de que Lula nunca estranhou os rios de dinheiro que corriam para seu partido nem o mar de recursos que irrigou as campanhas milionárias dos petistas, incluindo a dele e a de Marta Suplicy, no ano passado;
d) de que Delúbio Soares fala a verdade quando diz que todas as campanhas petistas tiveram caixa 2, menos a de Lula. Por estratégia, a nova direção do PT espalha aos quatro ventos que o partido está endividado e quebrado. Na contabilidade oficial, é claro... No paralelo, são outros quinhentos (milhões?);
e) de que não foi dinheiro público que bancou a farra;
f) de que Lula não tinha a menor idéia do que seus velhos companheiros e homens da maior confiança engendravam na sala ao lado.
Prestem atenção nesta frase da coluna de Tereza Cruvinel: Para o PT, a confissão de Delúbio tornou-se crucial. Permitirá não apenas a separação entre o governo e os malfeitos partidários e evitará também o linchamento moral indiscriminado dos petistas.
Prestem atenção também na "confissão" que Delúbio fará, no jornal O Globo. Leiam com lupa. Ela conterá gatos e lebres. Não comprem os gatos por lebres, nem as lebres por gatos. Saber separar os bichinhos é crucial para que todas as premissas listadas acima não sejam aceitas bovinamente pela maioria da população. Se forem aceitas, minha sugestão é de que cada cidadão brasileiro alfabetizado escreva um milhão de vezes: "o idiota sou eu, o idiota sou eu, o idiota sou eu..."
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Teresa Cruvinel é petista de carteirinha. É inacreditável que um jornalista consiga ser tão parcial.
Chega de disfarces
Tereza Cruvinel, O Globo (16/07/05)
Marcos Valério começou a falar, responsabilizando Delúbio Soares pela entrada e saída de dinheiro em suas contas. Agora, o esforço do PT é para que Delúbio também desembuche ao depor na CPI dos Correios na quarta-feira, assumindo a responsabilidade pela montagem de um caixa partidário operado pelo publicitário.
Se os dois falam a verdade, as investigações ganham foco mais nítido e direção mais clara e tudo será mais facilmente comprovado por documentos oficiais, como o sigilo bancário das contas de Valério e dos dirigentes petistas, que a CPI espera receber em breve. Para o PT, a confissão de Delúbio tornou-se crucial. Permitirá não apenas a separação entre o governo e os malfeitos partidários e evitará também o linchamento moral indiscriminado dos petistas.
Na lista divulgada pelo líder do PFL, Rodrigo Maia, de deputados petistas cujos assessores ou parentes estiveram na agência do Banco Rural em Brasília, viu-se que alguns eram homônimos. Um dos incluídos foi o deputado Sigmaringa Seixas, pelo fato de uma assessora dele ter ido à agência descontar um cheque de R$ 400 que recebera em pagamento de um serviço extra que fizera num fim de semana para uma empresa de eventos. O caso revoltou petistas e amigos do deputado, inclusive no PSDB, ao qual já pertenceu.
Quando as investigações estão nesta fase de lusco-fusco o risco de linchamento é grande. O próprio Rodrigo revoltou-se ontem com a revelação, pelo Globo Online, de que dois assessores seus também estiveram 15 vezes no banco pagando contas, conforme ofício por ele encaminhado à CPI, acompanhado das faturas quitadas. Mas nestas horas as coincidências podem levar a erros fatais. Houve saques grandes em dois dos dias que fizeram serviço bancário, mas isso não significa nada. Em relação a ele e também aos outros, até prova em contrário. Em 1993, a circulação de informações mal confirmadas levou à cassação do ex-presidente da Câmara Ibsen Pinheiro, que pesa sobre muitas consciências.
Se Valério e Delúbio começam a falar, jorrará mais luz sobre o labirinto escuro das denúncias e indícios. Valério deu o primeiro passo, confirmado que operava o esquema financeiro de Delúbio que Roberto Jefferson estourou. Afirmou ter feito empréstimos em nome de suas empresas para o petista e que transferiu recursos, pela rede bancária, a pessoas por ele indicadas. Mas nem a identificação destas pessoas significará necessariamente que elas sejam cúmplices. Se um parlamentar ou dirigente partidário estadual pedia ajuda ao tesoureiro oficial, e era providenciada, não tinham necessariamente que saber a origem do dinheiro. O encarregado de finanças era Delúbio. Se tinha a cumplicidade ou a proteção de outros dirigentes ou membros do governo, pode agora revelar. Este era o esforço que faziam ontem alguns dos novos dirigentes, depois do depoimento de Delúbio ao procurador-geral. Nesta altura, dizem eles, só a verdade libertará o PT, ainda que outros tenham que ser imolados. Mentiras, abafas e disfarces só têm servido para envenenar o ambiente político e com isso agravar a crise.
Se os dois falam a verdade, as investigações ganham foco mais nítido e direção mais clara e tudo será mais facilmente comprovado por documentos oficiais, como o sigilo bancário das contas de Valério e dos dirigentes petistas, que a CPI espera receber em breve. Para o PT, a confissão de Delúbio tornou-se crucial. Permitirá não apenas a separação entre o governo e os malfeitos partidários e evitará também o linchamento moral indiscriminado dos petistas.
Na lista divulgada pelo líder do PFL, Rodrigo Maia, de deputados petistas cujos assessores ou parentes estiveram na agência do Banco Rural em Brasília, viu-se que alguns eram homônimos. Um dos incluídos foi o deputado Sigmaringa Seixas, pelo fato de uma assessora dele ter ido à agência descontar um cheque de R$ 400 que recebera em pagamento de um serviço extra que fizera num fim de semana para uma empresa de eventos. O caso revoltou petistas e amigos do deputado, inclusive no PSDB, ao qual já pertenceu.
Quando as investigações estão nesta fase de lusco-fusco o risco de linchamento é grande. O próprio Rodrigo revoltou-se ontem com a revelação, pelo Globo Online, de que dois assessores seus também estiveram 15 vezes no banco pagando contas, conforme ofício por ele encaminhado à CPI, acompanhado das faturas quitadas. Mas nestas horas as coincidências podem levar a erros fatais. Houve saques grandes em dois dos dias que fizeram serviço bancário, mas isso não significa nada. Em relação a ele e também aos outros, até prova em contrário. Em 1993, a circulação de informações mal confirmadas levou à cassação do ex-presidente da Câmara Ibsen Pinheiro, que pesa sobre muitas consciências.
Se Valério e Delúbio começam a falar, jorrará mais luz sobre o labirinto escuro das denúncias e indícios. Valério deu o primeiro passo, confirmado que operava o esquema financeiro de Delúbio que Roberto Jefferson estourou. Afirmou ter feito empréstimos em nome de suas empresas para o petista e que transferiu recursos, pela rede bancária, a pessoas por ele indicadas. Mas nem a identificação destas pessoas significará necessariamente que elas sejam cúmplices. Se um parlamentar ou dirigente partidário estadual pedia ajuda ao tesoureiro oficial, e era providenciada, não tinham necessariamente que saber a origem do dinheiro. O encarregado de finanças era Delúbio. Se tinha a cumplicidade ou a proteção de outros dirigentes ou membros do governo, pode agora revelar. Este era o esforço que faziam ontem alguns dos novos dirigentes, depois do depoimento de Delúbio ao procurador-geral. Nesta altura, dizem eles, só a verdade libertará o PT, ainda que outros tenham que ser imolados. Mentiras, abafas e disfarces só têm servido para envenenar o ambiente político e com isso agravar a crise.
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