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Tuesday, July 05, 2005

LUÍS NASSIF Por trás da CSN X Vale

folha de s paulo
 A disputa entre a Companhia Vale do Rio Doce e as siderúrgicas nacionais -lideradas pela CSN (Companhia Siderúrgica Nacional)- é o típico episódio em que os dois lados têm razão quando se referem ao oponente. E também é um típico caso que exige uma arbitragem federal. Como se sabe, a SDE (Secretaria de Direito Econômico) do Ministério da Justiça emitiu um parecer obrigando a Vale a se desfazer do direito de preferência ao minério da Casa da Pedra (controlada pela CSN) e da participação na ferrovia da qual ela é sócia junto com as siderúrgicas e os fundos de pensão. A posição do SDE é que, com o controle do minério e da ferrovia, a Vale teria condições de impor seus preços no mercado interno. A Vale sustenta que os preços internos baseiam-se nas cotações internacionais, menos os custos associados de frete. A SDE argumentou com gráficos mostrando descolamento dos preços em reais e em dólares em determinados momentos de volatilidade. É bobagem gastar tempo discutindo as tecnicalidades do direito econômico. Ambos -Vale do Rio Doce e sistema siderúrgico nacional- são monopólios e/ou oligopólios. Ambos têm ambições internacionais. A Vale já é uma grande exportadora, as siderúrgicas começam a se internacionalizar. Nos dois casos, o setor continuará se concentrando e tendo de ser submetido a regulamentos concorrenciais. A disputa atual se prende a dois fenômenos que estão na iminência de acontecer: a redução da fome compradora da China e o apagão logístico interno. Com o refluxo da China, e o mercado europeu estagnado, os olhos do mundo se voltam para os Estados Unidos -mas que só importam produtos semi-acabados. O que é oportunidade para a Vale é risco para a CSN, e vice-versa. O Brasil caminha para se tornar uma base exportadora de semimanufaturados para os EUA. No pano de fundo da briga Vale X CSN está a prerrogativa sobre quem comandará esse processo de investimentos. De sua parte, a Vale simulou convites para siderúrgicas brasileiras, mas só convidou empresas estrangeiras para investir no setor. O receio da Vale em chamar parceiros brasileiros é que, pelo ambiente oligopolizado, há uma tendência das siderúrgicas brasileiras em controlar a oferta. Da parte da CSN, há o risco de, liberada do direito de preferência da Vale sobre a Casa de Pedra, esgotar rapidamente a mina para fazer caixa, ou simplesmente vendê-la para mineradoras australianas -grandes competidoras da Vale. O minério brasileiro é mais rico. Utilizado como "blend" com minério mais pobre, aumentaria substancialmente o poder de competição dos australianos. É aí que entra o poder de coordenação do governo. Tem que se pensar em um processo integrado, juntando Vale e siderúrgicas brasileiras, que permita montar uma cadeia produtiva do aço forte internacionalmente, competitiva internamente. E ensinar a esses senhores que um dos pressupostos de uma economia moderna é a capacidade das grandes empresas em compartilhar poder e estratégias

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