shared items

Sunday, July 10, 2005

ELIO GASPARI O jabá na prefeitura de Palocci

folha de s paulo
 Sem a teatralidade com que Roberto Jefferson estourou o "mensalão" e até mesmo sem o tom de denúncia, Augusto Pereira Filho, um ex-diretor da empresa municipal Coderp (Companhia de Desenvolvimento Econômico de Ribeirão Preto) contou no ano passado ao repórter Rogério Pagnan que entre 2001 e 2002, durante nove meses, recebeu um total de R$ 24.750 da empreiteira CVP. Tinha um salário de R$ 2.250 e o "complemento", repassado em dinheiro vivo, era de R$ 2.750 mensais. Na sua explicação: "o município achou uma forma de me pagar mais".
O Ministério Público Estadual investiga irregularidades porventura cometidas na Prefeitura de Ribeirão Preto e, no ano passado, tomou um depoimento de Pereira Filho. Ao repórter ele contou que o acerto foi negociado pelo superintendente da Coderp, Juscelino Dourado, atual chefe-de-gabinete do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, então prefeito do município. Pereira Filho é um técnico que passou também pelas prefeituras petistas de Franca e Jaboticabal.
O abono salarial é uma praga. Em Buenos Aires foi sucesso de vendas com o livro "Maquiavel Não Conheceu os Argentinos", de Enrique N'Haux, um doutor da ekipekonômica do ministro Domingo Cavallo (1991-1996 e 2001).
No México, a corrupção do aparelho partidário deu um grande filme. Chama-se "A Lei de Herodes" e conta a metamorfose de um honesto zelador depois de ter chegado à prefeitura de sua cidade, com a força do partido.
A degenerescência petista não é um fenômeno da militância, é do aparelho. Ela não surgiu com a chegada de Lula à Presidência da República. Vem lá de trás com incestos municipais que promiscuíram as relações dos quadros com os administradores e de ambos com fornecedores e empreiteiros.
A promiscuidade fortaleceu o aparelho e o aparelho fortaleceu a promiscuidade. A crise que Lula atribui ao aparelhamento é uma crise da promiscuidade. Dela ele sempre soube. Neste ano completam-se dez anos da primeira denúncia formal dessas práticas, feita pelo ex-secretário de Finanças de São José dos Campos Paulo de Tarso Venceslau. Pelo aspecto pessoal que suas acusações adquiriram, está na lista das pessoas que Lula tem raiva, "vontade de esganar mesmo".
A complementação salarial contada por Pereira Filho federalizou-se. Foi usada como argumento para seduzir um convidado para cargo público. No caso de Ribeirão Preto houve uma paridade entre o abono e o salário. O jabaculê federal pode ser estimado em duas ou três vezes o salário do freguês.
A justificativa do abono parte da premissa da honorabilidade do beneficiado. Seria o caso de se ajudar quem está perdendo dinheiro por trabalhar em Brasília. Esse argumento é falso. Trata-se de uma defesa astuciosa do "caixa dois" e do poder que ela concede a quem a alcança.
No caso de Pereira Filho, o prefeito Palocci ou seu colaborador Dourado poderiam dar R$ 2.750 ao diretor da Coderp tirando o dinheiro de seus bolsos. Admita-se que não o tivessem. Poderiam passar uma lista no PT, fazer uma rifa. Diriam para quem iria o dinheiro e responderiam à principal pergunta: de onde ele veio? Quando se usa a imagem do burocrata frugal pretende-se transformar em filantropos os fregueses da Viúva que alimentam os "caixa dois".
O ervanário das complementações também não tem nada a ver com caixa de campanha. Admita-se que a lei da paridade eleitoral está certa: para cada real declarado pelo candidato, há outro que passa por baixo da mesa.
A última campanha presidencial custou cerca de R$ 50 milhões a cada um dos dois principais partidos. Durante os quatro anos de um mandato, cem amigos com um abono de R$ 10 mil mensais comem um "caixa dois" de R$ 48 milhões, ou dez malas do Delúbio. A campanha não arrecada dinheiro suficiente para pagar essa conta.
A previdência partidária precisa de fluxo de caixa.

Ave Meirelles
Fica no saldo do doutor Henrique Meirelles: durante sua presidência no Banco Central as conexões do tesoureiro Delúbio Soares e do aspergente Marcos Valério foram poucas para transformar R$ 10 bilhões de papéis podres dos falecidos bancos Econômico e Mercantil de Pernambuco em dinheiro bom. Delúbio e Angelo Calmon de Sá, dono do Econômico, se conheceram em 2003 numa pescaria (de peixes) com Duda Mendonça. Bem feito.

Ponto queimado
Confusão em Washington. "The New York Times" revelou que um dos grandes lobistas da cidade, Jack Abramoff, usava o restaurante Signatures, do qual se tornou sócio, para patrocinar bocas-livres de políticos. A casa cobra US$ 70 por um pedaço de carne e US$ 140 pelo menu de degustação. Pegaram uma mensagem de Abramoff para a caixa informando que o líder do governo, Tom DeLay, ia jantar com a mulher e quatro convidados e estava dispensado da conta. Coisa de meio mensalão.

Pegou pesado
Crise política afeta os nervos, mas se Lula fizer com outros colaboradores o que fez com o comissário Luiz Gushiken, acabará conversando com as plantas do Planalto. O que ele fez? Recriminou-o diante de pessoas estranhas à intimidade dos dois.

Retucano
Se deixarem, Henrique Meirelles volta para o PSDB. Estava com tudo acertado para se filiar ao PTB.

Falta de educação
O presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti, cometeu uma grosseria com a patuléia que lhe que paga seu salário. Convidado para uma conversa com Lula, disse que tinha mais o que fazer. Quando um cidadão é chamado pelo presidente da República, tem a obrigação de comparecer, sem perguntar o assunto. Durante o governo de Bill Clinton, o deputado Newt Gingrich, poderoso presidente da Câmara, começou a virar farelo quando não atendeu um telefonema da Casa Branca.

Memória
Em 1965, o marechal Castello Branco leu no jornal que um de seus irmãos, funcionário da Receita Federal, ganhara em cerimônia pública um automóvel Aero-Willys. Era o agradecimento de sua classe pela ajuda que dera na elaboração de uma lei que organizava a carreira. Paulo Castello Branco, filho do presidente, costumava contar que o marechal telefonou para o irmão, dizendo-lhe que deveria devolver o carro. Ele argumentou que se cada fiscal da Receita tivesse presenteado uma gravata, o valor seria muito maior. Castello interrompeu-o: - Você não entendeu. Afastado do cargo você já está. Estamos decidindo agora se você vai preso ou não.

Urucubaca
Os companheiros da Volkswagen alemã, sempre mostrados como exemplo da maturidade nas relações entre uma empresa e um sindicato, estão sem sorte. O diário Süddeutsche Zeitung revelou que a direção da empresa manda membros do seu conselho de trabalhadores ao Brasil para observações e conversas de alto nível. Elas incluíam os serviços de prostitutas, no mensalão da empresa.

No comments:

Blog Archive