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Tuesday, April 26, 2005

LUÍS NASSIF A planilha e a geopolítica

 Em seu artigo mensal no jornal "Valor", o economista Fabio Giambiagi investe contra as idéias geopolíticas de Darc José da Costa. Darc é um sujeito polêmico, cujas idéias permitem muita discussão e contestação -não desqualificação.
O que chama a atenção, no artigo de Giambiagi, é o desprezo superior -de cabo a rabo- que dedica não às idéias de Darc mas a temas consagrados da ciência política mundial, sobre a maneira como nações se desenvolvem, buscam a hegemonia, os conflitos daí decorrentes entre a potência emergente e a dominante etc.
Ironiza a afirmação de que, "na próxima era, os grandes projetos que estimularão a humanidade serão correlacionados com a tarefa de reconduzir o verde para todos os desertos do mundo e para a conquista do Sistema Solar". O tema do esgotamento dos recursos naturais do planeta é objeto de preocupação mundial. Ou Giambiagi julga que o Protocolo de Kyoto tem algo a ver com o cartório que funciona no bairro japonês da Liberdade?
Ironiza a afirmação de que "o Brasil é o único artesão possível da mundialização". Nessa era de globalização, de conflitos étnicos, de intolerância, o brasileiro é visto pela moderna sociologia -inclusive especialistas internacionais- como o povo capaz de fazer a grande mediação, pelas óbvias características de nossa formação. Feche o Excel e leia Roberto da Matta.
Mais à frente, outra ironia contra a afirmação de que, em um futuro hipotético, em que o Brasil pudesse aspirar a ser potência, "os Estados Unidos poderiam ter outro posicionamento (...) usando o seu controle dos oceanos para manipular o comércio mundial".
Mas foi justamente esse o desafio que os Estados Unidos precisaram superar, no século 19, para enfrentar a hegemonia britânica. Integraram o Atlântico e o Pacífico por meio de grandes ferrovias continentais e por meio do canal do Panamá, conseguindo espaço no comércio oceânico. Dá uma bela discussão saber se esse modelo de hegemonia se repetiria ou não, se o Brasil um dia chegará lá. Mas não tratar o tema como se fosse uma boutade de militar aposentado.
Em uma época em que todo o esforço diplomático dos Estados Unidos tem como objetivo a preservação de reservas minerais estratégicas -e está aí a Guerra do Iraque para comprovar-, Giambiagi ironiza o fato de recomendar ao Brasil a busca da auto-suficiência em insumos estratégicos.
Finalmente, ironiza a afirmação de que o Brasil precisa aumentar sua taxa de natalidade, porque "não existem exemplos de industrialização bem-sucedida que não fosse acompanhada por um veloz aumento da população". Pode-se discordar ou não da posição, mas desqualificá-la com esse ar superior é o fim! Em toda a história do Brasil, o subpovoamento sempre foi um dos maiores desafios para a consolidação do país.
Giambiagi termina a coluna olimpicamente: "O leitor tire suas próprias conclusões". Como seu leitor fiel, minha conclusão é a seguinte: é um perigo gastar ironia com temas que não se domina.
FOLHA DE S PAULO

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