BRASÍLIA - Há vários tipos de preconceito de cor, é verdade. Mas, para usar a forma tautológica em voga com a chegada dos petistas ao poder, racismo é racismo.
No caso rumoroso desta semana, o jogador de futebol Grafite foi alvo de racismo. O atleta argentino Desábato o chamou, segundo os relatos disponíveis, de "negro de merda". Com a prisão quase imediata do infrator, diante das TVs, o episódio acabou chocando algumas pessoas.
"Espetacularização" do combate ao racismo ou exagero na interpretação de uma ofensa comum (sic) foram análises registradas aqui e ali. Até o ex-jogador Tostão, sempre firme nos seus comentários, defendeu que esses delitos entre atletas no campo de jogo devam ficar na Justiça Desportiva.
É triste ver prosperar essa condescendência no Brasil. Somos um país estranho. Uma das críticas mais recorrentes é que aqui as leis existem, mas quase nunca são cumpridas. No caso Grafite-Desábato, a lei foi cumprida. Como foi uma exceção, fala-se em exagero. Ou muda-se a lei ou ela tem de ser seguida à risca. É assim que se constrói uma nação.
Essa abordagem macia do preconceito, esse "racismo cordial", já apareceu cientificamente numa pesquisa nacional do Datafolha, em 1995, quando completavam-se 300 anos da morte de Zumbi dos Palmares. Para 89% dos brasileiros, há racismo no Brasil. Só que apenas 10% admitem serem, eles próprios, racistas.
Enunciados como "negro bom é negro de alma branca" e "negro, quando não faz besteira na entrada faz na saída" são considerados normais por brasileiros que não se dizem racistas. Para 87% da população, essas e/ou outras afirmações preconceituosas nada têm de errado.
O racismo dissimulado é primo-irmão das interpretações reducionistas quando um jogador negro é chamado de "macaco". Não importa qual tenha sido a motivação de Grafite. A sua denúncia é boa para o país.
Folha de S.Paulo
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Saturday, April 16, 2005
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