shared items

Tuesday, September 27, 2005

FUTEBOL

FUTEBOL

Eu me sinto uma idiota SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

De repente, tornou-se (mais) ridícula a discussão em torno do que Edilson de Carvalho teria dito a Sebá: "gringo de m...", "vai se f..." ou "vai jogar, porra" (versões apresentadas à imprensa). Não, o estádio não é um convento e eu não sou propriamente uma moça recatada, mas fico espantada com a tranqüilidade com que os advogados debatem as frases acima. E acho que o árbitro não deveria se dirigir aos jogadores com nenhuma delas. E o código disciplinar também acha, tanto que prevê 60 dias de gancho por "ofensa moral".
Ora, as ofensas e a moral... O que dizer agora, diante das arbitragens vendidas? Me sinto idiota por citar a falibilidade humana, por achar que os erros eram "só" questão de ruindade, ou por invocar o princípio segundo o qual todos são inocentes até prova em contrário (do qual não pretendo abrir mão, apesar da raiva).
O alcance do estrago causado pelo juiz corrupto e seus corruptores é difícil de ser medido. Em campo, jogadores e técnicos são meros fantoches, manipulados sem saber pelos roteiristas de uma ficção. Treinam, se esforçam, quebram a cabeça para resolver seus problemas no jogo, tudo em vão. Chegam em casa abatidos; às vezes, ficam fora do jogo seguinte -são expulsos como parte do acordo. Os torcedores saem felizes à toa- ou arrasados, agüentando uma semana de gozações por uma (falsa) derrota humilhante.
A imprensa esportiva comenta a farsa como se fosse verdade -analisa o desempenho individual, a tática adotada, as estatísticas do jogo, e até registra que o juiz foi muito mal. Sem jamais imaginar que sair escoltado de campo -por prejudicar acintosamente o mandante- era uma promessa, não uma fatalidade.
Edílson tinha uma propensão à fraude, como se viu no caso do diploma falso de ensino médio. Que não foi suficiente para criar entraves à sua ascensão na carreira. Enquanto isso, juízes honestos penam nas terceiras divisões, sem ver chances de chegar à elite.
Como evitar que coisas assim aconteçam? Como no governo e nos partidos, não se pode pretender que todos os indivíduos sejam honestos; é preciso criar e aperfeiçoar continuamente mecanismos de controle. Joseph Blatter acredita que pagar muito bem aos árbitros resolveria. Duvido. Há exemplos históricos nos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário (aqui e no mundo) de que a ambição humana não tem limites. Há quem faça qualquer coisa por dinheiro, mesmo já tendo muito -como os covardes apostadores que "contrataram" os juízes.
O que fazer agora? Como na política, não se pode culpar a todos indiscriminadamente, nem ignorar as regras ou desistir das instituições. É preciso investigar com seriedade e punir com correção. Oportunistas hão de querer a revisão até da Copa-50, mas calma. O que tiver de ser anulado, alterado, refeito, que seja, embora nada possa corrigir completamente o passado. E que este seja um momento de aperfeiçoamento do futebol brasileiro, não pretexto para uma nova onda de avacalhação.

No comments:

Blog Archive