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Tuesday, August 02, 2005

Valério empregou ex-mulher de Dirceu

Valério empregou ex-mulher de Dirceu
 DA REPORTAGEM LOCAL Folha de S Paulo

DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Ex-mulher do deputado José Dirceu (PT-SP), a psicóloga Maria Ângela Saragoça foi contratada em novembro de 2003 pelo BMG (Banco de Minas Gerais), em sua agência de São Paulo. Um mês depois, ela obteve um empréstimo do Banco Rural para a compra de um apartamento na zona oeste.
O empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, acusado de ser o operador do suposto "mensalão", intermediou os contatos entre a ex-mulher de Dirceu e as duas instituições financeiras.
BMG e Rural são personagens da crise política vivida pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva. Com aval de Marcos Valério, emprestaram dinheiro ao PT em 2003.
Com Lula na Presidência, o BMG viu seus negócios crescerem ao firmar parcerias com o INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social) e a Caixa Econômica Federal para conceder empréstimos a aposentados e pensionistas com desconto em folha de benefício.
O deputado do PT e ex-chefe da Casa Civil não quis falar sobre o assunto ontem. Sua assessoria de imprensa disse que ele comentaria o caso hoje, se questionado, no seu depoimento à Comissão de Ética da Câmara dos Deputados.

Relações
Ângela se separou de Dirceu em 1990. Ela afirma ter sido apresentada a Marcos Valério em setembro de 2003 pelo ex-dirigente petista Silvio Pereira, que ela diz conhecer há mais de 20 anos.
Advogado do BMG, Sérgio Bermudes afirmou que Marcos Valério indicou o nome da ex-mulher do deputado petista, então ministro da Casa Civil, diretamente ao presidente do banco, Flávio Guimarães. Depois da indicação do empresário, Ângela "passou por um processo de seleção normal", de acordo com o advogado.
Questionado se o BMG sabia que Ângela era ex-mulher do então ministro da Casa Civil, Bermudes disse ser "bem possível".
Ângela começou a trabalhar no departamento de recursos humanos do BMG em 3 de novembro de 2003, em regime de meio expediente, com salário de R$ 3.265.
Em 18 de dezembro do mesmo ano, a ex-mulher de Dirceu fechou um contrato de financiamento imobiliário no valor de R$ 42 mil na agência do Banco Rural de São Paulo. O dinheiro foi usado para a compra de um apartamento no Sumaré, bairro de classe média da zona oeste -o valor de mercado do imóvel, atualmente, é de cerca de R$ 200 mil.
Para completar a compra, Ângela diz ter usado o dinheiro da venda de um carro e seu antigo apartamento, no bairro de Vila Madalena, também na zona oeste.
Quem comprou o imóvel foi Rogério Tolentino, advogado e sócio de Marcos Valério. Ele afirma ter atendido a um pedido do petista Ivan Guimarães.
O negócio foi fechado em novembro de 2003 -um mês antes de Ângela comprar o novo imóvel. O valor que a ex-mulher de Dirceu recebeu, naquela época, foi de cerca de R$ 115 mil. Ângela afirma ter tomado conhecimento de que Tolentino seria o verdadeiro comprador de seu imóvel apenas na hora de passar a escritura -achava que estava vendendo o apartamento para Guimarães.

Em dia
Em nota divulgada ontem, o Banco Rural afirma que o pagamento do empréstimo por parte da ex-mulher de Dirceu vem sendo feito em dia -são 36 parcelas.
"As taxas de juros são as cobradas pelo mercado, conforme estabelecido pelo Sistema Financeiro de Habitação", diz a nota. Em outra nota, o Rural afirma que "não confirma" a interferência de Marcos Valério no empréstimo.
O banco disse também que não há fiador no empréstimo -a garantia do financiamento é o próprio imóvel. A carteira de clientes que têm empréstimos imobiliários na instituição é de R$ 3 milhões, segundo a assessoria.
Até o fechamento desta edição, a Folha não havia localizado Ivan Guimarães e Silvio Pereira para que comentassem o caso.

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