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Sandra Mara Corazza
Será deste mundo? Ele nada viu. Nenhuma coisa ouviu. Nada sabe. Nem do partido, nem do governo. Não passou 25 anos como funcionário-militante do partido. Não fez campanhas financiadas por dinheiro farto. Não governa este país há três anos.
Então, pára de viajar ao exterior. Vai para o interior do interior. Ao encontro do seu (?) povo (?). Ele se recandidata. Bem antes da hora. Em plena crise. Bota lenha na fogueira. Diz que vão ter de engoli-lo. De novo. Acusa as elites do país. Tudo como se estivesse fora, distante dele, deles. Tudo anterior ou posterior a ele. Como se nada houvesse, aí, para ser descoberto. Como se alguém, algum grupo, alguma classe tivesse o poder de criar o que aparece.
Daí, ele inaugura, inaugura, inaugura. Represas, estradas, programas, plantação de mamona. (Até universidades federais, meu deus! E nós, nas nossas, sem dinheiro para pagar a luz.) Ele chora. Fala na mãe. Na pobreza. E chora mais. Deixa que alguém, sem outorga, sem mandato algum, que nem pronuncia os ss finais das palavras, apresente-se como o consultor do Brasil no exterior. Um coletor. De verbas, de financiamentos, de empréstimos. Sem recibos. Sem nenhum documento.
Ele não sabe o que seu Primeiro Ministro fazia. Desconhecia os movimentos da máquina. O seu funcionamento. Os seus usos. Como se nada tivesse a ver com ela. Como se fosse só ele. Ninguém mais. Como se ele não fosse também peça da máquina movida a prestígio, a privilégios, a dinheiro. Público? Por isso... Nem saúde, nem educação, nem dignidade. Para nós. Abissal não distribuição de renda. A questão central só pode ser o poder.
Não é possível que não seja isto. Senão, como explicar: pra que tanto dinheiro? E nós, achando que os partidos políticos antagonizavam entre si! Uns ajudando os outros. Irmanados. Não mais a diferença. Univocidade rasteira. Erro crasso: misturar partido com governo. (No Rio Grande do Sul, já conhecíamos essa condição.) Além do altíssimo salário mensal: o mensalão. Em malas. Em cuecas. Onde mais? Mais benefícios próprios.
Cruzamentos despudorados. Performances intermináveis. Sessões. CMPIs. Secretárias. Playboy. Abafa! Abafa! Abafa! Vai sobrar pra todo mundo! Hora do maior cinismo. Mais do que desencanto! Mais do que desilusão! Vergonha! Vergonha de ser brasileira. Nesta hora.
(Sandra Mara Corazza é licenciada em Filosofia, doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Professora Adjunta da Faculdade de Educação da UFRGS.)
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