"Um em cada dois gaúchos votou em Zambiasi para o Senado." Com essas palavras, a página oficial do senador do PTB-RS faz a apresentação de si mesmo. Pura verdade. Sérgio Zambiasi, 55 anos, radialista de profissão, foi diversas vezes deputado estadual, é o chefe político que ressuscitou a legenda no Rio Grande e homem extremamente popular.
Com estilo marcadamente assistencialista, Zambiasi faz da tribuna e do palanque uma extensão do microfone. Sua base partidária, é recheada de pastores pentecostais, entre eles, dois dos três deputados federais da legenda. Um de seus trunfos, é a atuação combinada de três níveis de intervenção.
Zambiasi é funcionário licenciado do Grupo RBS, mas até julho deste ano, era colunista do Diário Gaúcho, jornal popular da Região Metropolitana, e durante as manhãs ocupava o microfone da poderosa Rádio Farroupilha. Seu correligionário, o deputado federal Edir Oliveira, titular da Secretaria de Trabalho, Cidadania e Assistência Social (STCAS), através de programas de assistência e controlando o Sistema Nacional de Emprego (FGTAS/SINE), disputa diretamente as mesmas bases sociais dos movimentos populares gaúchos.
Outro de seus trunfos é a Lei da Solidariedade. De formato simples, ela beneficia empresas que apóiem projetos sociais com abatimento de até 75% do ICMS. O aparelho político do PTB-RS intermedia o financiamento das empresas e destina a verba para "obras sociais" de sua própria rede.
Toda essa capilaridade nas classes populares (B2, C e D) faz com que sua rede de assistência operada por agentes políticos seja definidora de eleições na Região Metropolitana. Foi assim na eleição de José Fogaça para a prefeitura de Porto Alegre. O PTB fechou a dobradinha com o PPS, indicando o médico Eliseu Santos para vice-prefeito. Em escala estadual, Sérgio Zambiasi é o fiel da balança para as eleições do ano que vem no Rio Grande do Sul.
Além de todo esse poder político, Zambiasi tem outra característica marcante. Como dizemos por aqui, o senador é "liso, escorregadio". No estourar da crise dos Correios, quando o PTB estava sozinho na berlinda, a primeira medida pública da Executiva Estadual do partido foi convocar a rebelião. Diziam-se "rebeldes" e desobedientes para com a Executiva Nacional.
Abertamente, chegaram a convocar uma virada de mesa na interna da legenda a nível nacional. Quando Roberto Jéfersson partiu para o ataque, se calaram definitivamente, sem defender a nada nem a ninguém. No período, a assessoria de Zambiasi dizia que o senador estava enfermo. O radialista chegou a ficar quase 15 dias sem dar nenhuma declaração pública.
De volta a arena, o senador só trabalha com sua agenda positiva e se nega a fazer qualquer afirmação contundente sobre a crise política. Dizendo-se fiel a suas alianças, o PTB gaúcho se equilibra entre o governo Rigotto (PMDB), a "neutralidade" com sua legenda a nível nacional e até uma possível candidatura do senador para governar o Rio Grande.
Caso concorra, suas chances de vitória são grandes. Com o PT gaúcho em frangalhos, quem Zambiasi apoiar estará bem próximo do palácio do governo. O radialista descendente de italianos espera o movimento de outro "gringo" como ele. O caxiense Germano Rigotto não sabe se concorre ou não a reeleição. Até o início da crise, Rigotto era "grande amigo" do presidente Lula. Aliado firme, até se insinuava para ser vice-presidente numa possível reeleição. Com a crise do mensalão, os caciques Eliseu Padilha e Pedro Simon puxaram a saída do "nosso MDB" do governo federal. Tal movimento paralisou Rigotto, que por tabela paralisa a Zambiasi.
Justiça seja feita, não é só Zambiasi que está em silêncio. Diferente dos antepassados caudilhos, a classe política do Rio Grande se comporta de forma muito cautelosa. Confia no "isolamento ético" ao sul do Mambituba, rio que faz a fronteira do Rio Grande com o resto do país. Aos poucos a blindagem vai caindo, como na suspeita que recaiu sobre o deputado federal Augusto Nardes (PP-RS) e mais recentemente, o dinheiro enviado por Marcos Valério para quitar as dívidas da campanha do PT-RS em 2002.
Zambiasi se mantêm cauteloso e sabe que vive um momento crucial. As possibilidades de projeção de cenários vão do céu ao inferno. Com certeza, desde que o radialista e seus operadores políticos retomaram a legenda no Rio Grande do Sul, esta é a situação mais delicada. Se um de seus deputados for pego no esquema do mensalão ou em qualquer outro escândalo semelhante, cai por terra todo um prestígio político construído por três décadas de microfone popular. Como "radialista, pai de família e homem de fé", segundo suas próprias palavras, Zambiasi deve passar boa parte de seu tempo em silêncio rezando.
Bruno Lima Rocha é cientista político
blimarocha@via-rs.net
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