Três esclarecimentos (18/08/05 08:34) Permitida a reprodução citando a fonte
Alguns leitores andaram estranhando três notas que postei aqui, sobre a punição de Lula, o impeachment e as oposições partidárias. Então vou esclarecer. Primeiro Escrevi uma nota em que perguntava "Quem quer punir Lula". E respondi: "Eu não quero". E expliquei porque. Vou explicar de novo. O ânimo que me move – e me comove – não é a revanche, não é a perseguição, não é a punição. Lula deve mesmo ser punido caso fique provado que cometeu crime de responsabilidade e outras irresponsabilidades. Mas o objetivo político da luta democrática não deve ser puni-lo e sim obrigá-lo a mudar de comportamento e a corrigir todos os mal-feitos que perpetrou ou que permitiu que seus mais íntimos colaboradores perpetrassem dentro do seu governo. O mais importante, portanto, é desbaratar a quadrilha e desmontar o Estado paralelo que foi montado no Brasil. Isso é o fundamental. Tentar obrigá-lo a governar já é outra coisa, porém inútil. Ele não o fará. Não sabe. Não tem competência. Não tem paciência. Ele só sabe fazer campanha e só faz campanha, só molha a camisa, em causa própria, quer dizer, quando o candidato é ele. É uma pessoa autocentrada (característica, diga-se, de muitos políticos, mas que no caso de Lula assume aspectos patológicos na medida em que ele se deixa possuir pelo mito que inventou e foi alimentado pelos espertos petistas que queriam pegar uma carona no líder para ascender política e, como estamos vendo agora, social e economicamente). Segundo O segundo esclarecimento é sobre o impeachment. Sou favorável ao impeachment, acho que já existem evidências suficientes, mas não acho que as oposições partidárias devam ficar, agora, pedindo o impeachment de Lula. O que tenho dito é que elas não podem continuar cometendo a asnice de ficar dando declarações de que são contra o impeachment, de que o impeachment é uma proposta equivocada e outras besteiras. Impeachment não é golpe, como julga o PT (e alguns vacilantes oposicionistas tendem a repetir). É um mecanismo democrático, previsto em nossa Constituição. Se afastarmos, em princípio, a proposta de impeachment – independentemente das responsabilidades que, ao meu ver, já são mais do que suficientes para iniciar uma investigação do presidente e para cobrar dele explicações convincentes – então sinalizamos que não estamos, objetivamente, querendo apurar as coisas até o fim. Pois todo mundo sabe (até o Pateta, além do Mickey e do Pato Donald, ao contrário do que se disse no protesto de ontem em Brasília), que Lula sabia de tudo e mais do que isso. Se não tomarmos a decisão de interpelar o presidente, nós é que estaremos dando um golpe. Em outras palavras, golpe, como já se disse aqui – e foram alguns leitores que observaram a obviedade –, é manter Lula de qualquer jeito, artificialmente, por mera conveniência política ou calculismo eleitoreiro, ao arrepio da lei e dos bons costumes republicanos. Então, digo mais uma vez, para ficar bem claro: as oposições devem exigir que o presidente mude de comportamento e que corrija os mal-feitos cometidos no seu governo, seja por ele – Lula –, pelos seus auxiliares (escolhidos por ele) ou pelo PT. Somente se ele não quiser mudar de comportamento, se ele não quiser corrigir os seus erros e se continuar trilhando os mesmos caminhos insensatos que provocaram a crise atual, é que as oposições partidárias devem pedir o impeachment. Isso é muito diferente de ficar esgrimindo com moinhos de vento, lutando contra forças imaginárias que estariam propondo o impeachment, ficar falando abobrinha e reafirmando a toda hora que as oposições são contra o impeachment. O impeachment é o último recurso. Sim. Mas pelo fato de ser o último não é um recurso para ser afastado in limine. Pelo contrário: é um recurso democrático para ser valorizado. Diz-se que o impeachment depende dos resultados das investigações. Como isso é sempre verdade, é uma platitude. Mesmo assim, é válido dizê-lo se se acrescentar: desde que – isso é muito importante – o presidente e o seu partido deixem de tentar "melar" o trabalho das CPIs e colaborem com as investigações. E desde que o presidente mude de comportamento e pare de vender versões falsas à população (como fez na entrevista de Paris e, depois, em vários palanques): falsas versões para reduzir Mensalão à Caixa 2 de campanha; falsas versões para fazer o povo acreditar que está em andamento um golpe das elites, da direita, da imprensa, dos conservadores; falsas versões sobre a origem dos recursos; falsas versões sobre as dimensões da crise (reduzida a um diz-que-diz dos inconformados com o seu sucesso) etc. Ou seja, para resumir: Lula pode continuar. Mas existem condições para tanto. Não pode continuar como está. Se ele não quiser se emendar só há um remédio democrático: o impeachment. Por isso as oposições não podem falar contra o impeachment. Ao fazerem isso retiram a força do único instrumento capaz de forçar a mudança de comportamento do presidente. Terceiro O terceiro esclarecimento é sobre os partidos de oposição. Recomendei que a sociedade brasileira não ficasse esperando pelos partidos. Reafirmo: é isso mesmo. Por que? Porque quem tem que mudar, quem tem que se atualizar, quem tem que correr atrás para captar o sentimento da sociedade, são os partidos. Eles são instrumentos e não fins em si mesmos. Do jeito como estão organizados e funcionam não estão sendo bons instrumentos. Esse é o primeiro aspecto. O segundo aspecto da crítica aos partidos é mais conjuntural. Refere-se à sua incapacidade de ser e fazer oposição, sobretudo uma oposição conseqüente ao lulismo-petismo. Até há pouco alguns dos atuais partidos de oposição ainda estavam iludidos com Lula, como são os casos do PPS, do PDT e do PV. Até mesmo o PSDB se iludiu bastante. Achou que o PT era uma força política útil e construtiva para a democracia brasileira, que Lula era a melhor alternativa depois de Serra. Advertidos inúmeras vezes de que não era assim, de que o hegemonismo petista, o seu estatismo, o seu apetite pantagruélico pelo poder representavam um atentado à democracia brasileira, muitos líderes do PSDB – não todos, registre-se – fingiam que não estavam ouvindo ou davam um sorrizinho irônico. Eles achavam que sabiam. E, no entanto, não foram capazes de ver, com a devida antecedência, o que estava em marcha no país. Concederam aos aparelhistas uma trégua enorme para que eles continuassem aparelhando o governo e, impunemente, se enraizando em todos os escaninhos da administração. Mesmo agora, ainda não entenderam que a desinfestação do Estado é a prioridade política máxima para os democratas. Muitos continuam achando que dá para levar a coisa assim mais ou menos como está até o início da próxima campanha eleitoral. Daí a dificuldade do partido de tomar uma posição inequívoca na conjuntura atual. Será mais um erro ou uma nova camada de erros que se depositará sobre as camadas anteriores. Eis o motivo pelo qual a sociedade brasileira não pode, ainda, dar muita bola para o que eles dizem. |
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