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Thursday, August 18, 2005

Três esclarecimentos Antonio Fernandes

Três esclarecimentos

 (18/08/05 08:34)

Permitida a reprodução citando a fonte
http://www.e-agora.org.br

Alguns leitores andaram estranhando três notas que postei aqui, sobre a punição de Lula, o impeachment e as oposições partidárias. Então vou esclarecer.

Primeiro

Escrevi uma nota em que perguntava "Quem quer punir Lula". E respondi: "Eu não quero". E expliquei porque.

Vou explicar de novo. O ânimo que me move – e me comove – não é a revanche, não é a perseguição, não é a punição. Lula deve mesmo ser punido caso fique provado que cometeu crime de responsabilidade e outras irresponsabilidades. Mas o objetivo político da luta democrática não deve ser puni-lo e sim obrigá-lo a mudar de comportamento e a corrigir todos os mal-feitos que perpetrou ou que permitiu que seus mais íntimos colaboradores perpetrassem dentro do seu governo.

O mais importante, portanto, é desbaratar a quadrilha e desmontar o Estado paralelo que foi montado no Brasil. Isso é o fundamental.

Tentar obrigá-lo a governar já é outra coisa, porém inútil. Ele não o fará. Não sabe. Não tem competência. Não tem paciência. Ele só sabe fazer campanha e só faz campanha, só molha a camisa, em causa própria, quer dizer, quando o candidato é ele. É uma pessoa autocentrada (característica, diga-se, de muitos políticos, mas que no caso de Lula assume aspectos patológicos na medida em que ele se deixa possuir pelo mito que inventou e foi alimentado pelos espertos petistas que queriam pegar uma carona no líder para ascender política e, como estamos vendo agora, social e economicamente).

Segundo

O segundo esclarecimento é sobre o impeachment. Sou favorável ao impeachment, acho que já existem evidências suficientes, mas não acho que as oposições partidárias devam ficar, agora, pedindo o impeachment de Lula. O que tenho dito é que elas não podem continuar cometendo a asnice de ficar dando declarações de que são contra o impeachment, de que o impeachment é uma proposta equivocada e outras besteiras.

Impeachment não é golpe, como julga o PT (e alguns vacilantes oposicionistas tendem a repetir). É um mecanismo democrático, previsto em nossa Constituição. Se afastarmos, em princípio, a proposta de impeachment – independentemente das responsabilidades que, ao meu ver, já são mais do que suficientes para iniciar uma investigação do presidente e para cobrar dele explicações convincentes – então sinalizamos que não estamos, objetivamente, querendo apurar as coisas até o fim. Pois todo mundo sabe (até o Pateta, além do Mickey e do Pato Donald, ao contrário do que se disse no protesto de ontem em Brasília), que Lula sabia de tudo e mais do que isso. Se não tomarmos a decisão de interpelar o presidente, nós é que estaremos dando um golpe.

Em outras palavras, golpe, como já se disse aqui – e foram alguns leitores que observaram a obviedade –, é manter Lula de qualquer jeito, artificialmente, por mera conveniência política ou calculismo eleitoreiro, ao arrepio da lei e dos bons costumes republicanos.

Então, digo mais uma vez, para ficar bem claro: as oposições devem exigir que o presidente mude de comportamento e que corrija os mal-feitos cometidos no seu governo, seja por ele – Lula –, pelos seus auxiliares (escolhidos por ele) ou pelo PT. Somente se ele não quiser mudar de comportamento, se ele não quiser corrigir os seus erros e se continuar trilhando os mesmos caminhos insensatos que provocaram a crise atual, é que as oposições partidárias devem pedir o impeachment. Isso é muito diferente de ficar esgrimindo com moinhos de vento, lutando contra forças imaginárias que estariam propondo o impeachment, ficar falando abobrinha e reafirmando a toda hora que as oposições são contra o impeachment.

O impeachment é o último recurso. Sim. Mas pelo fato de ser o último não é um recurso para ser afastado in limine. Pelo contrário: é um recurso democrático para ser valorizado.

Diz-se que o impeachment depende dos resultados das investigações. Como isso é sempre verdade, é uma platitude. Mesmo assim, é válido dizê-lo se se acrescentar: desde que – isso é muito importante – o presidente e o seu partido deixem de tentar "melar" o trabalho das CPIs e colaborem com as investigações. E desde que o presidente mude de comportamento e pare de vender versões falsas à população (como fez na entrevista de Paris e, depois, em vários palanques): falsas versões para reduzir Mensalão à Caixa 2 de campanha; falsas versões para fazer o povo acreditar que está em andamento um golpe das elites, da direita, da imprensa, dos conservadores; falsas versões sobre a origem dos recursos; falsas versões sobre as dimensões da crise (reduzida a um diz-que-diz dos inconformados com o seu sucesso) etc.

Ou seja, para resumir: Lula pode continuar. Mas existem condições para tanto. Não pode continuar como está. Se ele não quiser se emendar só há um remédio democrático: o impeachment.

Por isso as oposições não podem falar contra o impeachment. Ao fazerem isso retiram a força do único instrumento capaz de forçar a mudança de comportamento do presidente.

Terceiro

O terceiro esclarecimento é sobre os partidos de oposição. Recomendei que a sociedade brasileira não ficasse esperando pelos partidos. Reafirmo: é isso mesmo. Por que? Porque quem tem que mudar, quem tem que se atualizar, quem tem que correr atrás para captar o sentimento da sociedade, são os partidos. Eles são instrumentos e não fins em si mesmos. Do jeito como estão organizados e funcionam não estão sendo bons instrumentos. Esse é o primeiro aspecto.

O segundo aspecto da crítica aos partidos é mais conjuntural. Refere-se à sua incapacidade de ser e fazer oposição, sobretudo uma oposição conseqüente ao lulismo-petismo.

Até há pouco alguns dos atuais partidos de oposição ainda estavam iludidos com Lula, como são os casos do PPS, do PDT e do PV. Até mesmo o PSDB se iludiu bastante. Achou que o PT era uma força política útil e construtiva para a democracia brasileira, que Lula era a melhor alternativa depois de Serra. Advertidos inúmeras vezes de que não era assim, de que o hegemonismo petista, o seu estatismo, o seu apetite pantagruélico pelo poder representavam um atentado à democracia brasileira, muitos líderes do PSDB – não todos, registre-se – fingiam que não estavam ouvindo ou davam um sorrizinho irônico.

Eles achavam que sabiam. E, no entanto, não foram capazes de ver, com a devida antecedência, o que estava em marcha no país. Concederam aos aparelhistas uma trégua enorme para que eles continuassem aparelhando o governo e, impunemente, se enraizando em todos os escaninhos da administração.

Mesmo agora, ainda não entenderam que a desinfestação do Estado é a prioridade política máxima para os democratas. Muitos continuam achando que dá para levar a coisa assim mais ou menos como está até o início da próxima campanha eleitoral. Daí a dificuldade do partido de tomar uma posição inequívoca na conjuntura atual.

Será mais um erro ou uma nova camada de erros que se depositará sobre as camadas anteriores. Eis o motivo pelo qual a sociedade brasileira não pode, ainda, dar muita bola para o que eles dizem.
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Comentários

Sobre os partidos, principalmente o PSDB, é evidente e se comprova a percepção do senso comum : Os Tucanos adoram ficar em cima do Muro. Porém o Muro pode desmoronar!!!

Enviado por marcio em 18/08/05 09:21


Ahh, e tem mais. Aqui em São Paulo, ainda há varios petistas nas estruturas estatais! Porque será que o Prefeito não os retirou ainda!!! São um atentado a democracia, verdadeiros Terroristas!!!

Enviado por marcio em 18/08/05 09:24


Naquele tempo, os trabalhadores não ficaram no muro: foram até o fim. O socialismo alemão venceu porque os alemães não ficaram no muro em 1933. Até importaram os campos de concentração que Lenin difundiu (e Stalin idem) na URSS de Todos.

Enviado por claudio em 18/08/05 09:24


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