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Tuesday, August 23, 2005

CLÓVIS ROSSI Dívida, economia e hipocrisia

FOLHA DE S PAULO

 SÃO PAULO - É hipócrita a disseminada discurseira em favor de "blindar" a economia para evitar a contaminação pela crise.
Hipocrisia porque não há razão para proteger o desempenho da economia. É fácil demonstrar: todo mundo está cansado de saber que o Brasil foi o país que mais cresceu no mundo de 1900 a 1973. "Hoje passamos a ser o 93º (em crescimento econômico)", diz Paulo Cunha (grupo Ultra) para a revista "Desafios do Desenvolvimento", editada pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas.
Paulo Cunha vem a ser uma das melhores cabeças do país.
O empresário defende o que chama de "binômio mágico, que produziu o milagre econômico alemão do pós-Guerra, que foi utilizado no Japão na década de 60 e, agora, está produzindo o milagre na Ásia: câmbio alto e juro baixo". Não por acaso, o oposto do que se faz no Brasil.
Não é culpa só do governo Lula, diga-se, mas de sucessivas administrações, que, como a atual, encalharam na mediocridade.
Pretender blindar um desempenho econômico que está entre os piores do planeta seria renunciar a transformar em país esse aglomerado amorfo chamado Brasil.
Vire-se agora o foco para o social e tem-se que a política econômica do tucanato, a mesma que é seguida pelo petismo, é incapaz de produzir alterações, a não ser microscópicas, nas duas feridas mais feias da pátria: a pobreza e a desigualdade.
Blindar um desempenho econômico e social desse tipo é cruel, além de perpetuar a mediocridade.
Portanto, vamos deixar de hipocrisia e dizer com todas as letras o que de fato se pretende: não é blindar a economia em bloco, mas assegurar que a dívida continuará a ser religiosamente paga, sangre o que sangrar. Nada contra (nem a favor), mas chega de vender como amor à pátria o que é puro interesse.

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