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Thursday, August 25, 2005

Teoria da conspiração? PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.

FOLHA DE S PAULO

Não costumo fazer autocitações, mas um leitor me enviou a seguinte passagem, que considerou profética, retirada de artigo publicado nesta coluna em novembro de 2004, logo depois da derrota eleitoral de Marta Suplicy:
"Ilude-se (...) quem imagina que o atual presidente da República será apoiado pelos centros nacionais e internacionais de poder em 2006. Lula foi aceito em 2002 porque não havia outro remédio. O próprio candidato da situação, José Serra, não era o nome ideal para assegurar a continuação da agenda econômica e internacional do período FHC. Em 2006, entretanto, as elites dispõem de mais de uma alternativa potencialmente competitiva para enfrentar Lula. E farão tudo para derrotá-lo e eleger algum nome do PSDB. Evidentemente, a operação será ainda maior do que a que destronou Marta em 2004" ("Nobreza natural", Folha, 11 de novembro de 2004).
Teoria da conspiração? Permita-me, leitor, uma breve e acaciana observação sobre esse assunto. O poder econômico e político nem sempre é exercido de forma transparente. Freqüentemente, é mais eficaz operar de modo opaco. Nesses momentos, sempre que alguém tenta comentar ou desvendar manobras de bastidores, logo aparece uma legião de políticos, economistas e jornalistas, em atitude pseudo-sofisticada, a tentar ridicularizar supostas teorias conspiratórias.
Nunca fui simpatizante do governo Lula. Só consegui elogiar a condução das negociações comerciais externas (Alca, Mercosul-União Européia, acordos Sul-Sul, OMC). A política econômica, continuísta e acovardada, sempre me desagradou.
E, no entanto, a bem da justiça, cabem algumas perguntas. O sistema político-eleitoral brasileiro é ou não é intrinsecamente corrupto? Algum governo brasileiro resistiria a uma investigação da envergadura da que está sendo feita no momento? Algum dos principais partidos políticos resistiria a uma investigação como essa?
Obviamente, nada disso desculpa os erros e crimes de integrantes do atual governo, do PT ou de outros partidos da base governista. E volto a escrever algo que já escrevi aqui (para indignação furiosa de vários lulistas): se aparecerem evidências claras e inapeláveis de envolvimento do presidente Lula com crimes e irregularidades, quem se animará a ser contra o impeachment?
Em toda essa confusão, o grande objetivo dos setores dominantes das elites brasileiras e seus aliados no exterior é preservar a política econômico-financeira, isto é, blindar o Ministério da Fazenda e o Banco Central. Não por acaso, o presidente da República reitera constantemente que a política econômica será mantida, custe o que custar. Lula quer ser poupado.
CPIs (ainda mais três!) são muito difíceis de controlar. Mas, se os donos do poder puderem, tentarão levar Lula, desgastado e enfraquecido, até o fim do seu mandato. Afinal, por que derrubariam um governo que é, agora mais do que nunca, basicamente inofensivo e não ameaça os seus interesses fundamentais? O impeachment não lhes interessa. Tanto mais que o vice-presidente da República, como se sabe, é um crítico vigoroso da atual política econômica.
A crise política já produziu os efeitos que eles poderiam desejar. A cada dia que passa, diminuem as chances de Lula se reeleger. Se ainda conseguir, chegará ao segundo mandato enquadrado e domesticado.
Mesmo assim, não tenha dúvida, leitor: tudo se fará para favorecer a eleição de um tucano confiável, claramente comprometido com a preservação da agenda econômica e capaz de executá-la com mais autenticidade e possivelmente mais competência.
Teoria da conspiração?

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