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Sunday, July 22, 2007

Quem tem medo de Karl Marx?

Quem tem medo de Karl Marx? :: CADERNO 2  Estado
Quem tem medo de Karl Marx?

Um tsunami de livros sobre o filósofo invade as livrarias e traz novas interpretações de sua obra, tida pelo inglês Francis Wheen como o marco zero da mundialização

Antonio Gonçalves Filho

Um tsunami Marx acaba de invadir as prateleiras das livrarias de todo o País. Nada menos que duas biografias do pensador alemão, uma escrita pelo inglês Francis Wheen e outra pelo francês Jacques Attali, um livro de ensaios (Incontornável Marx, 405 págs., R$ 40 ) e o sexto volume da coleção História do Marxismo no Brasil (Unicamp, R$ 60) chegam simultaneamente ao mercado, dando o que pensar sobre as razões de tantos lançamentos numa época em que Marx parece tão deslocado como personagem de Bergman em filme de Fellini. Será? Entrevistado pelo Estado, Francis Wheen concorda com Jacques Attali que o pensamento de Marx é extremamente atual. Attali, na biografia Karl Marx ou O Espírito do Mundo (Editora Record, 450 págs., R$ 60), chega mesmo a defini-lo como o primeiro teórico da mundialização. Wheen, por sua vez, classifica-o como "pioneiro" em seu livro (O Capital de Marx, Jorge Zahar Editor, 136 págs. R$ 29), por tratar, com 150 anos de antecedência, do fetichismo das mercadorias que hoje tanto perturba o mundo, dominado pela hegemonia do mercado.

Marx, diz Attali, profetizou que o mercado pode ser mais poderoso que a democracia. Sua teoria sobre a mundialização do capitalismo faz, hoje, mais sentido que na própria época em que foi concebida, conclui o francês. Por isso, justifica, é preciso voltar a estudar o filósofo sem preconceitos, tentando não confundir Marx com marxismo. Attali, que foi conselheiro de Miterrand e criador de um banco (Banque européenne pour la reconstruction et le développement), afirma categoricamente que Marx defendia um socialismo mundial e que ele viria depois do capitalismo, e não em substituição a ele. Wheen explica o 'revival' Marx lembrando que a época atual, dominada pelo mercado, conserva muitas semelhanças com a primeira Revolução Industrial. Há, segundo Wheen, muita alienação no mundo contemporâneo. Os trabalhadores não mais se envolvem com o que produzem e são descartados pelas rápidas mudanças tecnológicas e pelo avanço da economia virtual.

O livro de Francis Wheen integra uma coleção inglesa de dez volumes, Livros Que Mudaram o Mundo, dos quais dois já foram publicados no Brasil: A Origem das Espécies, biografia de Darwin assinada por Jeanette Broun, e Direitos Humanos, a vida de Thomas Paine vista por Christopher Hitchens. Até setembro do próximo ano estão prometidos os seguintes títulos: uma interpretação da Bíblia por Karen Armstrong, uma introdução ao Alcorão por Bruce Lawrence, uma apresentação dos clássicos Ilíada e Odisséia de Homero por Alberto Manguel, O Príncipe de Maquiavel por Philip Bobbitt, A República de Platão por Simon Blackburn, A Riqueza das Nações de Adam Smith por P.J. O'Rourke e Sobre a Guerra de Clausewitz por Hew Strachan.

Todos esses livros tentam responder a uma pergunta inquietante: podem as idéias mudar o mundo? Marx achava que os filósofos podiam até interpretá-lo, mas mudar o estado das coisas é uma outra história. De qualquer modo, ele chegou a ser apontado como o filósofo mais influente de todos os tempos, segundo uma pesquisa da BBC. Seu legado é discutido nos 15 ensaios reunidos pelo historiador e cientista social Jorge Nóvoa em Incontornável Marx, que agrupa ensaístas de tendências diversas, do cientista social brasileiro Michael Löwy, radicado na França, ao professor de sociologia francês Jean-Marie Bröhm. O livro discute desde as teorias econômicas de Marx até sua dívida com Hegel para a compreensão da relação arte e sociedade, passando por uma discussão sobre o seu pretenso desprezo pela natureza, obcecado que era pela produção.

 
Biógrafo inglês de Marx diz que ele previu crise atual :: TXT Estado
Biógrafo inglês de Marx diz que ele previu crise atual

A mundialização, o fetiche das commodities e a hegemonia do mercado foram previstos por filósofo, diz Francis Wheen

Antonio Gonçalves Filho

O jornalista inglês Francis Wheen, autor de O Capital - Uma Biografia, já havia lançado, antes dessa, uma premiada biografia de Marx (Karl Marx, 2001, Editora Record). É assumidamente um homem de esquerda, signatário do Manifesto Easton, que no ano passado provocou discussões intermináveis na Inglaterra por rejeitar o relativismo cultural e propor a defesa intransigente da Declaração dos Direitos do Homem contra o ideal fundamentalista das verdades eternas. Wheen prega o triunfo dos valores iluministas e o socialismo, para raiva de sua família de industriais, fabricantes de sopa. Bem-humorado, ele não liga quando alguém brinca com sua ascendência ou sua aparência, a de um típico representante Tory, o partido conservador inglês. Por telefone, de Londres, ele concedeu uma entrevista ao Estado, publicada a seguir.

Em Como a Picaretagem Conquistou o Mundo, você observa que a razão está em baixa e que valores do Iluminismo, como a resistência à autoridade e a autonomia intelectual, foram trocados por bolas de cristal, fundamentalismo religioso, misticismo e irracionalismo, Há ainda espaço para a filosofia materialista de Marx num mundo como esse?

Sim, não tenho a menor dúvida, especialmente neste momento em que o mundo globalizado deixa de demonizar Marx para reencontrar nele sérias reflexões sobre a substituição de valores humanos pelo poder das mercadorias. Há 17 anos, quando a União Soviética e os países do Leste Europeu entraram em colapso e o Muro de Berlim desabou, havia um consenso de que o capitalismo vencera e Marx não teria mais lugar no mundo contemporâneo. Hoje esses mesmos profetas que o enterraram são obrigados a desenterrá-lo para refletir sobre fenômenos então pouco discutidos como o fetichismo das mercadorias. Marx já tratava disso em sua época. Aliás, não só sobre isso. Poucos lembram, mas ele já falava de globalização, corrupção política e declínio da alta cultura há 150 anos. É só ler O Capital. Está tudo lá nesse livro que precisa ser relido sem a paixão dos ideólogos da guerra fria, que viram em Marx a figura do demônio. Em Como a Picaretagem Conquistou o Mundo, tento descrever como vejo o mundo atual, dominado pela superstição, pela pseudofilosofia e pelo individualismo, uma verdadeira traição aos ideais iluministas. Em O Capital de Marx - Uma Biografia, meu tema é a vida de um homem que tratou da exploração humana, de como os valores humanos seriam transformados em objetos inanimados, antevendo ainda a interdependência das nações, palavra que ele preferia à globalização.

Seu livro apresenta Marx como um literato, um intelectual que recorre a diferentes fontes e gêneros, misturando economia com novela gótica, melodrama vitoriano com tragédia grega. Seria possível acrescentar a isso tudo uma pitada metafórica, no estilo bíblico, lembrando as parábolas cristãs sobre como tratar o semelhante. Como essa obra híbrida, que trata dos efeitos da primeira Revolução Industrial, pode ser lida num século dominado pela economia virtual e que rejeita a cultura humanista?

A Bíblia é só uma das fontes de Marx, um ateu, claro, mas é possível ouvir ecos de Shakespeare, Dante, Goethe e principalmente Charles Dickens em O Capital, que também precisa ser lido como obra literária de um erudito, e não apenas como um tratado econômico sobre mercadorias tiranizando os trabalhadores que a produzem. Como digo no livro, é preciso ler O Capital como uma obra da imaginação, em que os heróis são consumidos pelo monstro que criaram, exatamente como nas melhores novelas góticas. Um aspecto pouco observado pelos especialistas é a veia satírica de Marx, próxima à de Swift, em particular quando ele fala, de modo sarcástico, da lógica interna do capitalismo. Claro, é uma obra literária típica do século 19, uma espécie de versão dickensiana para o idioma econômico. Se as pessoas ainda se comovem com Dickens, por que não com Marx, que fala dos mesmos despossuídos? Veja, a globalização empurrou para as ruas um contingente de profissionais que hoje não têm função num mundo cada vez mais veloz, tecnológico e desumano. São os miseráveis de Dickens que se vêem sem trabalho e obrigados a descobrir novas maneiras de viver. Aliás, bem mais miseráveis e vivendo em condições mais precárias do que poderia supor a imaginação de Dickens.

Você falou em ironia e noto que, além de Edmund Wilson, você foi um dos poucos a observar esse lado de Marx. Por que o mundo acadêmico tem tanta resistência em reconhecer a veia satírica do filósofo?

Não sei. Talvez pelo fato de que poucos reconheçam os valores literários de O Capital e apontem Marx como o mestre de genocidas como Stalin e Mao. Fukuyama queria acabar com a história, mas Marx voltou para se vingar. Os literatos ficariam surpresos se tentassem ler O Capital com um olhar menos sociológico e mais compenetrado no escritor, que adorava Dickens. O próprio Marx sabia que seria incompreendido por seus contemporâneos, a ponto de recomendar a leitura de A Obra-Prima Ignorada de Balzac a seu parceiro Engels. Não sei se você lembra do livro, mas Balzac fala de um pintor que se julga revolucionário e pretende pintar o mais realista dos quadros, acabando por produzir uma antecipação da pintura abstrata para surpresa de seu amigo Poussin, que talvez não tenha reconhecido um retrato sob aqueles traços à deriva, após tantos retoques. Marx também foi vítima de más interpretações . Ele foi seccionado, dividido entre o jovem filósofo e economista maduro, quando deveria ser lido como um todo. Fragmentado, ele vira o retrato do pintor de Balzac.

Sua opinião sobre Marx, contudo, não é totalmente favorável a ele. De fato, você o descreve como um tremendo ego, um intelectual sádico que não apenas manipulava e subvertia dados a favor de suas teses como um explorador do amigo Engels, a quem não teria dado a mínima quando a mulher deste morreu. Além disso, a considerar suas observações, ele tinha pouco apreço pela classe trabalhadora, tratando-a por vezes com desprezo.

É preciso considerar as condições em que Marx viveu, a extrema miséria que enfrentou, o exílio de um homem brilhante perseguido pela polícia e a tragédia familiar que matou seus filhos, por fome ou suicídio. Um homem vivendo assim tão miseravelmente e produzindo uma obra de tal relevância tem de ser desculpado por um ou outro deslize. Era, sim, um tremendo ego, mas, em O Capital, ele se mostra solidário com os trabalhadores ao descrever o cotidiano das vítimas da Revolução Industrial como se estivesse produzindo um romance de Dickens. Eu não o demonizei nem pretendi escrever uma hagiografia, como fizeram outros biógrafos. Quis mostrar o Marx humano. E, também por isso, não podia ocultar informações que não são assim tão obscuras, especialmente o suporte intelectual, e não apenas financeiro, que Engels deu a Marx, ou a polêmica sobre Ferdinand Lassale (que valeu ao pensador acusações de racismo). Marx se acreditava um artista criativo, um poeta, e ficava triste por não ser reconhecido como tal. Isso explica muitas das tiradas rompantes contra seus detratores.

O Capital - Uma Biografia, Francis Wheen, Jorge Zahar, 136 págs., R$ 29

 
O pensador que ainda desafia :: TXT Estado
O pensador que ainda desafia

MARX INCONTORNÁVEL: O título do livro de ensaios organizado pelo historiador Jorge Nóvoa (parceria da Editora da Universidade Federal da Bahia com a Editora da Unesp) foi pensado para provocar aqueles que defendem a superação das idéias do filósofo alemão. Em textos inéditos (alguns ao menos no Brasil), autores que se autoproclamam marxistas fazem oposição à hegemonia do pensamento neoliberal e defendem que a democracia não rima com os interesses do capital no mundo contemporâneo. Nóvoa, na introdução, reitera a observação de Francis Wheen, de que é preciso ler Marx sem os vícios das leituras economicistas e politicistas. É o que tentam fazer os 15 autores desses ensaios, que tratam desde a noção de imperialismo e da análise do capitalismo por Marx até a história imediata (a guerra dos EUA contra o terrorismo) e assuntos pouco explorados, entre eles a problemática relação do filósofo com o meio ambiente, tema de um ensaio de Renán Vega Cantor. Ou, ainda, com a arte, relação explorada por Antônio da Silva Câmara. Neste último ensaio, Câmara diz que, em que pese a crítica de Marx a Hegel, o filósofo não se afastou dele, assumindo a concepção hegeliana de que a arte é a apropriação do espírito por si mesmo. O francês Jean-Marie Bröm faz uma crítica aos "clássicos" do marxismo que expurgaram a morte, oculta no materialismo histórico, que esbarrou num dos seus maiores pontos cegos: a finitude. O Marx do século 21, diz Jacque Videt, não é o mesmo dos anos 1950, antes da leitura renovada de Habermas. Ele precisa ser relido sem preconceitos.

 
Mergulho sereno em uma vida complexa :: TXT Estado
Mergulho sereno em uma vida complexa

Em Karl Marx ou o Espírito do Mundo, Jacques Attali consegue cumplicicidade envolvente do leitor com o personagem

Elias Thomé Saliba

Em 1887, quatro anos depois da morte de Marx, a nova edição inglesa de O Capital, emplacou, em apenas um ano, a marca de 5 mil exemplares vendidos nos Estados Unidos. Mas o efêmero sucesso foi devido à penetrante propaganda do editor junto aos profissionais das finanças, que anunciou o livro como um "fabuloso método de fazer fortuna no sistema bancário!". Entre inúmeros, este foi apenas um pitoresco exemplo da mais formidável trajetória de equívocos associados a uma obra que talvez tenha sido a mais calamitosamente mal interpretada de todos os tempos. Jamais um pensador arregimentou um tão amplo e variado sortimento de incompreensões, manipulações e ambigüidades. Os usos e apropriações de sua obra por credos bastardos só perde para a maneira como as centenas de seitas cristãs maltratam o Antigo Testamento. Com a biografia de Marx aconteceu o mesmo: de um lado, narraram sua vida igualando-o a um quase-Messias, um santo laico que iria salvar o mundo das injustiças; de outro, satanizaram-no de tal forma que, se ele tivesse vivido mais alguns anos, certamente seria apontado como o principal suspeito dos crimes de Jack, o estripador.

Em anos recentes, a voga das biografias fartamente pesquisadas veio alterar de vez este panorama, revelando uma história bem mais interessante que a idolatria ou o menosprezo apressado de tantos biógrafos. É o caso de Karl Marx ou o Espírito do Mundo de Jacques Attali que chega às mãos do leitor brasileiro. Attali sempre se saiu bem, escrevendo sobre os mais diversos assuntos. Da vida de Marx ele nos dá detalhada narrativa, conectando as vicissitudes privadas e frustrações públicas em seis magníficos capítulos, que resumem as diversas facetas do homem, do filósofo, do revolucionário, do economista, do pensador e do líder da Internacional. E se mostra lúcido e sensível para delinear um retrato forte e comovente de Marx: um apátrida de relacionamentos planetários, um pessimista com extrema confiança na humanidade, um homem sozinho - perseguido pelas polícias de todas as nações, desterrado até em seu campo - e cuja obra se encontrava ainda em estado de esboços desordenados no momento de sua morte.

Attali não deixa de lado a explanação concisa de alguns conceitos e cria uma cumplicidade envolvente do leitor com o personagem Marx: a precisão do seu pensamento, o poder de seu raciocínio, a clareza de suas análises, a ferocidade de suas críticas, o humor de suas tiradas, a clareza de seus conceitos. "Imagine Rousseau, Voltaire, d'Holbach, Lessing, Heine e Hegel reunidos numa mesma e única pessoa - e estou dizendo reunidos e não justapostos - e tereis o doutor Marx." Esta frase, de Rudof Hess, talvez seja a mais definidora da personalidade intelectual de um pesquisador incansável - capaz de descobrir - no lixo de um sebo - preciosos relatórios de inspetores de fábrica ingleses, que ajudarão a fundamentar argumentos da sua teoria da mais-valia. Mas Attali nos revela também uma vida que se desenvolve numa espiral cada vez mais pungente e que ele acompanha com os acontecimentos da época. Marx nunca teve um emprego ou renda fixa por mais do que dois anos, sua vida familiar foi de crônica miséria e tristeza: perdeu três filhos ainda jovens, sofreu dores horríveis dos furúnculos, da doença hepática e dos pulmões - e ainda, constrangeu-se por longos anos com o amigo Engels - que não somente bancava suas dívidas, como também assumiu como seu o filho que Marx teve com a empregada.

De qualquer forma, passando bem longe do trivial, a biografia é um mergulho sereno na complexidade de uma vida. Há momentos envolventes nos quais os conceitos se relacionam intensamente com eventos e emoções da própria vida de Marx, transmutando-se em lúcidas observações autobiográficas: todo trabalho é sofrimento, pois ele sempre cria algo que está fadado a separar-se do seu autor. Marx também sentiu, toda a sua vida, imensa dificuldade de separar-se de qualquer texto e dá-lo por concluído. Sua irônica observação - "Não tenho tempo para escrever livros curtos" - pode ser vista como um clarão autoderrisório das suas próprias dificuldades de escrever. Para escrever, Marx também sempre precisava de um alvo, de um adversário que lhe permitia avançar teoricamente ao longo das frases; necessitava também, ardentemente, escorar-se em fatos e acontecimentos da história imediata.

Attali justifica toda esta ebulição com a observação de que Marx tinha a alma de repórter. Lembre-se que Marx chegou a visitar a Exposição Universal de Londres, em 1862, como jornalista credenciado e, em certa época, sonhou em fundar uma agência de imprensa - o que, afinal, acabou se realizando, alguns anos depois, só que por um outro judeu-alemão radicado em Londres, Julius Reuter. Seja como for, é assim que Attali explica sua crônica incapacidade de concluir: cada vez que Marx está para encerrar um escrito acabava interrompendo-o para mergulhar num novo oceano de livros. Qualquer pretexto serve para ele não escrever a palavra "fim". Parece que tem que surgir um obstáculo toda vez que ele está para entregar um texto, como se o medo de publicar o deixasse doente. É que Marx permanecia tão obsessivamente conectado à realidade imediata que não queria perder nada. Acabar seus escritos seria como concordar que a realidade tinha acabado e admitir que a história chegara ao fim. O que nos faz lembrar daquele incrível Michel Carra, engajado e apaixonado jornalista da época da revolução francesa - a quem se refere Victor Hugo em Noventa e Três - o qual, a poucos minutos de ser guilhotinado, resmungou ao impassível carrasco: "Aborrece-me morrer, gostaria de ver o resto!"

Elias Thomé Saliba é historiador, professor da USP e autor, entre outros livros, de Raízes do Riso

 
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  Trecho

"A extraordinária trajetória deste proscrito, fundador da única religião nova dos últimos séculos, permite-nos compreender como o nosso presente foi construído com base nesses homens raros, que optaram por viver como marginais desapossados para preservar o direito de sonhar com um mundo melhor, embora os caminhos do poder lhes estivessem abertos. Temos para com eles dever de gratidão. (...) Com freqüência cada vez maior, ao longo das minhas pesquisas, fui sentindo necessidade de saber o que ele pensava do mercado, preços, produção, troca, poder, injustiça, alienação, mercadoria, música, tempo, medicina, física, propriedade, judaísmo e da história. Hoje, sempre consciente de suas ambigüidades, sem compartilhar quase nunca as conclusões dos seus epígonos, não há um tema com que eu venha a me envolver sem que me pergunte o que ele pensou a respeito."

Karl Marx ou o Espírito do Mundo, Jacques Attali, Record, 446 págs., R$ 60

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